CRIME E CASTIGO

Lá estava ela, olhava fixamente para Leôncio, que não acreditava no que via, não era possível que estivesse ali. Ficou paralisado, as pernas tremiam, sua face enrubreceu e ficou impossibilitado de dar um passo sequer. Alguns minutos se passaram e ela o olhava sem esboçar nenhuma reação, apenas fazia questão que fosse vista por ele. Em seguida sumiu por entre folhagens daquela estrada de barro deserta, aliás ele sempre passava por ali no retorno do trabalho, era o único caminho. Sentiu-se aliviado quando ela desapareceu, respirou fundo e seguiu seu rumo em direção a sua casa.

   Aldenir abriu a porta da humilde residência e Leôncio entrou, ela notou o estado deplorável em que se encontrava o marido, mas ele nada falou sobre o ocorrido, alegou que estava cansado, o dia fôra corrido na obra onde trabalhava como pedreiro e havia discutido com um companheiro com quem não simpatizava, essa foi sua alegação. Já era noite quando em casa chegou, tomou um banho, jantou e foi dormir sob o olhar desconfiado da esposa.

   No dia seguinte, quando voltava da obra, Leôncio teve a mesma visão, a menina lá estava, aquele mesmo semblante e o olhar fixo nele, que já esperava por isso. Nervoso teve ímpeto de correr, mas as pernas não obedeceram e ele ali ficou aguardando algum desfecho, mas como no dia anterior ela simplesmente sumiu. O pedreiro praticamente via essa cena quase todos os dias quando voltava do trabalho, já estava a ponto de enloquecer, até que certo dia, não mais agüentando essa barra teve um mal súbito e ali mesmo expirou.

Aldenir, sua esposa, soube do ocorrido e providenciou os funerais de uma maneira simples, no pequeno cemitério da cidade. Leôncio foi enterrado próximo a cova de Lourdes, a menina que trabalhava numa casa vizinha a sua e que foi brutalmente estuprada e morta por ele meses antes, fato que ninguém soube quem fôra o assassino.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 16/09/2020
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