Amarração Para o Amor

Eram 4 horas da tarde, Rubens não sabia se entrava naquela casa com fachada desbotada ou ia embora. Uma placa enorme, na entrada, dizia:

Faz-se Amarração Para Amor

Trazemos o Amor de volta em até 3 dias.

Sentia-se tremendamente ridículo, mais ridículo ainda por ter caído no papo furado de Júlia.

Ela disse:

- Rubens, eu sei que você não acredita nessas coisas, mas quando eu fui lá foi tiro e queda.

Ele quis retrucar, mas ela reforçou dizendo que se não desse certo o que ele teria perdido afinal?

A Dignidade

Alguma grana

Porém estava lá por desespero.

Lembrou da primeira vez que viu Carol, em um barzinho. Ela era conhecida de conhecidos. Nunca tinha visto ser-humano mais maravilhoso e incrível. Clichê do clichê, embaraçado ao último mal conseguiu dizer um oi, e desde então vinha nutrindo uma admiração secreta por ela.

Júlia sempre falava para me soltar, ir falar com ela, tentar algo.

Eu não conseguia sair do mero papo furado. Nem o número de telefone dela eu peguei, com medo de mandar algo errado e estragar algo que nem existia.

Vim apelar para forças ocultas.

Entrou. Tocou a sineta. Uma voz rouca, de pessoa que fuma há muito tempo, ordenou que entrasse na sala contígua.

Sala meio escura (clichê), com uma mesa no centro (clichê), uma bola de cristal no centro da mesa (clichê) e uma senhora vestida de cigana, fumando um Derbi (não me espantou).

Ela me convidou a sentar. Me pediu para explicar o porquê tinha vindo e eu expliquei a história por cima, até porque não havia muito para explicar.

- Então você gosta muito mesmo dessa Carol?

- Acredito que sim, dona Eulália.

Eulália era o nome dela. Eu tinha pesquisado algumas coisas sobre aquele lugar antes. Atendia ali há anos e pelo estado do lugar não dava lucro há muito tempo também. Só os desesperados para cair nessa bobagem e voilá, eu estou aqui.

Ela me olhou cética. Senti que não a tinha convencido. Perpétua desdita a minha, se nem a senhora que eu estou pagando acredita no que quero, como poderia confessar isso para Carol? Acho que veio a calhar eu ter vindo aqui mesmo.

- Bem, tem algo dela como uma peça de roupa? Preciso de algo para fazer a amarração.

Claro. Tenho alguns lenços usados, bitucas de cigarro e uma calcinha velha dela. Santo Deus, claro que não tinha nada. Não sabia que tinha que me tornar um maníaco assediador e ladrão para apelar para forças ocultas.

- Desculpe, não possuo nada dela. Como tinha explicado, tenho dificuldades sequer de falar com ela, quem dirá possuir qualquer objeto dela.

- Sendo assim, me mostre uma foto dela. Vou tentar fazer algo, mas não garanto nada, a magia sairá muito mais fraca por conta disso.

Desculpas

- Você entende né?

Claro que não, meu nome não é Paulo Coelho.

Mostrei uma foto de Carol. Dona Eulália ficou olhando a imagem por algum tempo, soergueu uma sobrancelha, pigarreou. Me devolveu meu celular. Olhou fundo nos meus olhos e com todo o afeto possível disse:

- Esquece, ela é muita areia pro teu caminhão, eu não faço milagres aqui. Melhor continuar rezando, porque só Deus para lhe ajudar.

Paguei por aquilo e entendi o porquê aquele lugar estava nessas condições. O mal de dona Eulália era a sinceridade extrema.

Francisco Nascimento
Enviado por Francisco Nascimento em 17/10/2020
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