O sonho atrás da porta - bviw

O jardim era o filho mais velho da família. Todos da casa sabiam amar, cuidar dele. E nunca se ouviu falar em incorporação de novas plantas. Era uma beleza autossustentável, local que tinha autoestima, que gostava de ser amigo de todos, do sol, da meia-sombra, da sombra. As pessoas que visitavam a família da Tia Flora eram sempre recebidas da mesma forma: ela descia a escada, atravessava a multidão de cores, abria o portão de acesso e entregava um abraço receptivo e perfumado a cada um.

Quando Matilde conheceu aquela casa encantada, quis ter um jardim assim - guardião do encanto e das boas energias.

O sonho, agora adulto, seguiu a vida nômade de Matilde. Ela escolhia o local, preparava o solo, semeava e quando menos esperava tinha que mudar de endereço. Que pena! Tinha que começar tudo de novo. Uma frustração não poder ver suas plantas florirem.

Por fim, ela aprendeu a despedir-se de seus jardins em duvidosa evolução. Pensar que dependeriam dos próximos moradores, do gosto por flores, fez com que ela decidisse que, nas despedidas, deixaria escrita e pregada atrás da porta principal a história do jardim da casa da sua Tia Flora e da energia boa que reinava por lá.

A esperança é que, aos poucos, a prática do cultivo de jardins se torne uma realidade. Ninguém precise mais se frustrar esperando tanto tempo para ver o jardim florescer. É só cuidar e eles estarão em todas as casas.Enquanto não se fixa numa morada própria, Matilde continua com o ritual de despedida: o sonho do jardim imortal.

Maria do Carmo Fraga(MarianaMendes)
Enviado por Maria do Carmo Fraga(MarianaMendes) em 27/10/2020
Reeditado em 03/06/2021
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