Então, ela que não ouso dizer o nome, redigiu uma carta detalhista para suas exéquias. Gostaria que houvesse um enterro bem simples e discreto, sem o nefasto velório. E, também, se for possível que a roupa vestida na defunta fosse clara. Nada de maquiar a defunta. Se em vida, não era tão vaidosa, seria contraditório que em morte, fosse toda "perua" para o além. Como você sabe, existem muitos cadernos escritos à mão, e ainda, não publicados, nem digitados. Se quiser e puder, digite-os ou peça alguém para fazê-lo. Muitos escritos são apenas profissionais, da área do Direito e da Educação. Mas, outros são puros devaneios. Há um romance policial, os sete snipers que tramam assassinar vários políticos de um país decadente e repleto de paradoxos. No final, os sete atiradores, como num pacto poético, matam ao mesmo tempo, todos os sete políticos importantes. E, arremessam a pobre republiqueta num total anarquismo. Bem, esse romance recomendo não publicar, porque poderiam afirmar que se trata de incentivo a violência ou ao anarquismo. Como a defunta era anarquista assumida, não se pode totalmente negar as intenções de se libertar dos grilhões do Estado e de sua infinita hipocrisia. Chame apenas os amigos mais chegados que não passam de cinco e, parentes uns poucos também. Fique com livros, ou então, os doe para uma biblioteca necessitada. Por favor, mande rezar várias missas e rituais religiosos dos mais variados, pois a pobre alma precisará de toda luz que for possível, principalmente para singrar mares nunca dante navegados. E, por favor, não fique triste, pois os afetos não morrem jamais. Estarei com vocês em lembranças e em sentimentos bons.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 10/11/2020
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