Guardou os sonhos e os esqueceu...
Ela guardou a sua vida para depois.
Viveu a vida de menininha perfeita que os pais sonharam.
Por anos fez exatamente o que esperavam...
Foi a criança de cabelos de ouro, meias de babado e laços no vestido.
Foi aluna exemplar do colégio de freiras...
Seus sonhos ficaram lá, guardados junto com a vida,
Com a vida que não viveu!
Procurou entender o porquê...
Porque viver pelos outros?
Era fácil entrar na história já começada, já existente, já emoldurada... totalmente preparada que nem receita de bolo.
Podia viver ali, sem nenhum grande esforço.
Criar uma nova dava trabalho, corria mais riscos...
Na historia dos outros alguém pensaria por ela.
E no final a culpa pelos erros, nunca seria dela.
Sem saber o que fazer ela continuou vivendo a vida dos que a cercavam.
A adolescência passou e ela nem percebeu...
Simplesmente cresceu...
E de repente amadureceu.
A sua vida continuou sem vida.
Continuou vazia.
Vivia na rasteira dos outros.
No vácuo que lhe cabia.
Na falta do que fazer ela fazia para outros.
Na falta do que falar ela se calou para o mundo.
E a história criada não era sua não lhe cabia mudanças, não lhe cabia desvios e nem retornos...
Nem era sua a obrigação
De tomar qualquer decisão.
Pertencia a outros este dever...
Ela era platéia,
Espectadora da roda que girava em torno,
Às vezes coadjuvante,
Mas nunca protagonista.
Aí um dia ela acordou e todas as vidas seguiram sem ela...
Ela então tirou a sua própria vida do guardado...
Um baú pesado de sonhos não realizados.
E não sabia o que fazer com ela...
Os sonhos?
Cansados de esperar se detiveram em outras vidas que pudessem os realizar...
Nem mais os sonhos lhe pertenciam...
Sem Face, sem perfil, sem história real.
E os dilemas seguiram em sua existência.
As curvas da estrada não eram desvios e nem encruzilhadas.
Estavam ali sem brilho quase apagadas.
04/08/2014