Tesouro

*O verdadeiro tesouro é aquele

que enriquece a alma*

Tesouro

Aquela cidade cheirava a tranquilidade. Parecia que o próprio tempo tinha se aposentado e estava vivendo ali, sentado no final de tarde jogando uma partida de dominó junto com os velhinhos que frequentavam aquela praça diariamente. Tudo era muito lento. Mesmo as pessoas mais jovens tinham aquele andar despreocupado, sem pressa de chegar aonde quer que fosse. Não por não se importarem com os compromissos, mas porque tinham herdado esse ritmo de seus pais e avós e, mais ainda, da rotina que os cercavam.

A singela cidadezinha tinha tudo o que precisava pra suprir as necessidades de seus moradores. Uma igreja com um padre para rezar a missa do domingo; uma padaria que fornecia cucas dominicais de comer suspirando; um bar para alegrar a vida de alguns, que as vezes alegrava até demais; e um pequeno hospital para atender a grande maioria dos moradores que já estavam em uma idade bem avançada, mas que no geral atendia a todos sem grandes complexidades, pois não havia necessidade.

Ali vivia Teobaldo. Um senhor de estatura baixa, narigudo como nosso imaginário ilustra o próprio Pinóquio e magro como uma taquara verde. Tinha trabalhado a vida inteira como maquinista de trem naquela cidade nos bons e velhos tempos da estrada de ferro. Era uma pessoa muito falante e como não tinha muito o que fazer nas suas imensas horas de folga, principalmente depois de aposentado, gostava de ir até a praça que ficava na frente da antiga estação de trem para conversar com os amigos que se reuniam para jogar Dominó todas as tardes de todos os dias possíveis. Só não jogavam quando o sol não se fazia presente e a chuva insistia em tomar conta daqueles poucos dias nebulosos. Em geral, na cidade predominava o tempo seco e quente.

Teobaldo, embora fosse uma pessoa muito gente boa, por algum motivo de pura incompreensão, não era muito querido por determinadas pessoas, que até o chamavam de Teobaldo, “o louco”. Muitas das vezes que ele se aproximava, armavam algo para despistá-lo, pois ele sempre vinha com seu jargão repetitivo e que todos levavam na mais pura brincadeira: “Vocês precisam conhecer o meu tesouro... Vocês não sabem, mas eu sou muito rico!”

Ninguém tinha muita paciência para ele, que vivia repetindo aquelas palavras, sendo que todos sabiam que era pura invenção de sua cabeça. E para piorar ele contava que além de rico, ele já tinha vivido muitas vidas e que tinha viajado por todo o mundo.

Volta e meia, um ou outro menos paciencioso, intervinha em sua conversa e o talhava:

- Mas para de mentir homem! Anda por ai sem eira nem beira, mora naquela casa caindo aos pedaços e vem falar que já viajou o mundo? Sei que você nunca saiu da cidade, imagina viajar para outros países! Essa sua historinha cansa todo mundo! – esbravejava sem paciência.

Embora ele não se se importasse com a opinião daqueles homens insensíveis a sua causa e história, bem no fundo ele se entristecia por não conseguir compartilhar da maneira que almejava as suas histórias. Enquanto jogava a peça 6 por 2 na bancada de pedra que tinha embaixo de um pé de plátano na praça, insistia em contar histórias que ele alegava ter vivido.

- Eu já contei de quando eu estava no complexo de uma cidade multiétnica, chamada Teotihuacán, que depois foi ocupada pela civilização Azteca, onde hoje é o México? E que o chefe supremo daquele povo acreditou que um Deus tinha chego em suas terras, juntamente com um animal que nunca tinham visto?

- Minha nossa! – exclamou um dos jogadores – Nessa você foi longe demais! O que você andou bebendo hoje? Podia me dar um pouco dessa bebida, porque deve ser da boa pra fazer você falar essas doidices.

As risadas tomaram conta da mesa e Teobaldo, acostumado a ser desacreditado, parava de falar, baixava a cabeça e simplesmente continuava a jogada.

As partidas eram demoradas e geralmente dava tempo de Teobaldo tentar relatar mais alguma das suas histórias. Porém como na maioria das vezes, não obtia sucesso em sua empreitada e era interrompido por algum dos companheiros que além de não o deixar falar, acabava avacalhando com sua história. Contudo alguns tinham mais paciência que outros e dependendo o dia deixavam ele contar suas sandices, como geralmente chamavam tais histórias.

Antes do pôr do sol findar a tarde, cada um tomava o rumo de suas casa, cada qual com sua velocidade e com suas forças, mas todos com o mesmo intuito, descansar para voltar no dia seguinte e iniciar mais algumas demoradas partidas embaixo daquela sombra. A maioria ainda tinha família e eram rodeado por netos e filhos que permaneciam na cidade, levando uma vida simples e tranquila.

Alguns poucos já viviam sozinhos, principalmente por já estarem viúvos. Mas Teobaldo diferenciava-se da maioria, pois sua solidão não era resultado de uma viuvez ou uma recente distância dos filhos e, sim, consequência de uma vida toda solitário. Ele não havia se casado, não tinha filhos e tampouco família. Não se sabia muito sobre sua história, mas nela não havia espaço para amores impossíveis ou desilusões. Teobaldo era apenas mais um senhor envelhecido pela vida, que seguiu sua história sozinho.

Em geral, seus dias eram sempre iguais.

Suas manhãs iniciavam-se cedo. Assim que acordava, colocava uma chaleira de água para esquentar pra fazer um café passado bem forte. E antes da chaleira chiar, tirava da geladeira um pote com algumas sardinhas que ele comprava frescas na feira e preparava com um pouco de azeite de oliva. Sempre comia junto com pão, mas as vezes um ovo acompanhava a peculiar refeição matinal que Teobaldo repetia a tantos anos. Falava que aquilo era a sua fonte de juventude. Passava a manhã fazendo alguma atividade doméstica ou apenas descansando em sua casa. Nem sempre fazia almoço. Ele não havia acostumado comer naquele horário, herança de seu trabalho, que não permitia parar de meio-dia para almoçar. Então a refeição não lhe fazia muita falta.

Depois, logo no começo da tarde, sem falhar, sempre no mesmo horário e todos os dias lá ia ele se juntar aos companheiros de jogatina.

Sentava sempre no mesmo lugar, gostava de ficar de frente para a antiga estação. Ficava olhando e relembrando de quando a majestosa ‘Maria Fumaça’ desfilava por aqueles trilhos e de como se sentia importante por ser o responsável pela condução das locomotivas e composições ferroviárias, seja em trens de carga, ou de passageiros que, viajavam indo ou vindo em uma movimentada ferrovia.

Aquela estrada de ferro já tinha sido palco de muitas histórias maravilhosas e de feitos heroicos. Por ali já tinha passado até o presidente da república Getúlio Dornelles Vargas muitas décadas antes e também tinha servido de refúgio de combatentes que fugiam da Guerra dos Farrapos, e tantas outras histórias, que se a própria ferrovia pudesse falar, ficaria uma eternidade para contar tudo que tinha presenciado.

Não demorava muito e todos os jogadores estavam devidamente acomodados para começar a partida, até que Teobaldo começasse com sua ladainha de sempre “Vocês precisam conhecer o meu tesouro... Vocês não sabem, mas eu sou muito rico!”

- Sim, sim! E para que lugar você viajou essa noite? – perguntou um dos jogadores em tom de deboche.

- Essa noite? Eu fiquei muito triste! - falou Teobaldo olhando fixo para a peça 3 por 5 que tinha na mão.

- Mas o que houve? - falou agora o outro jogador com o tom da voz realmente preocupado.

- Eu estava numa cidade um pouco maior que a nossa, quando escutei um assovio muito forte, olhei para o céu e vi uma luz muito brilhante. Parecia que o sol tinha descido para a terra em segundos. Logo depois senti meu corpo ser arremessado para longe. Levantei momentos depois e tudo o que estava ao meu redor tinha sumido, prédios, árvores, casa... tudo! Ouvia longe os gritos das pessoas pedindo por ajuda. Estavam todos queimados, não dava para saber o que era roupa e o que era pele. Tudo era um misto de queimado e desespero. Pessoas corriam para um rio para tomar água, mas depois que bebiam acabavam morrendo engasgadas com o próprio vômito. Era horrível e eu não podia fazer...

- Credo, Teobaldo! Saia daqui com essas histórias! Hoje você exagerou! - exclamou o homem que tinha pedido o que havia acontecido.

- Mas... – tentou continuar aquele homem baixinho com o olhar murcho.

- Mas nada! Vai dar uma volta. Depois você vem jogar. Assim quem sabe você esquece esse pesadelo que você teve. Deus me livre! – finalizou a conversa o outro companheiro em tom irritadiço.

Teobaldo concordou e saiu dali. Demoradamente deu uma pequena volta da praça e logo estava de volta ao círculo de jogadores. Sentou no seu lugar e acompanhou a partida só com o olhar. Voltou calado. Entretanto quando todos estavam concentrados para encerrar a partida, Teobaldo soltou mais uma vez “Vocês tem que conhecer o meu tesouro... Vocês não sabem mas eu sou muito rico!”

Nesse momento o breve silencio foi interrompido pela voz áspera de um dos jogadores:

- Puta que o pariu! - gritou furioso o jogador que estava prestes a ganhar a partida, mas por se desconcentrar com aquela frase, acabou jogando errado e perdeu a partida.

- Deixa disso... - falou o mais velho dos jogadores – Não vai colocar a culpa no Teobaldo agora! Você que não soube jogar!

- É que esse maluco as vezes me tira do sério – completou o anterior.

Assim, menos afavelmente, outra tarde de jogatina e conversa fiada se encerrava na pequena cidade. E mais uma vez, os jogadores tomavam seus rumos.

O céu coloria-se de um alaranjado marcante ao passo que o sol descia à oeste e anunciava que o dia estava terminando. Os pássaros começavam a se ajeitar nos ninhos, as galinhas já iam subindo nas árvores, arrumando-se para dormir.

Tudo na mais tranquila rotina de sempre. E amanhã, após o descanso merecido, tudo aconteceria igual mais uma vez.

A cidade amanheceu para um dia ensolarado de calor ameno. E depois do almoço, os velhos jogadores rumavam para seu ponto de encontro. O primeiro jogador recém havia chegado e ainda estava tirando as peças do dominó da caixinha no início da tarde, quando Teobaldo chegou, ao mesmo tempo que outro jogador. Talvez o mais ranzinza do grupo. E em um tom pouco conciliador cumprimentou Teobaldo, alertando-o:

- Boa tarde maluco! – falou asperamente – Nem comesse a falar maluquices hoje que eu não estou com paciência pra você. E tem outra, hoje meu filho que está de férias vai vir aqui mais tarde jogar com a gente, então não quero você atormentando ele com suas histórias, certo?

Teobaldo assentiu, mas disse ao companheiro:

- Uma pena que você não queira conhecer o meu tesouro. Você não sabe, mas eu sou muito rico!

- Porque eu ainda dou bola pra esse maluco? - falou alto para si mesmo e virou-se de costas para Teobaldo, fazendo cara de poucos amigos.

Não demorou muito para que todos os integrantes do grupo fossem se achegando. Embora não tivessem hora marcada, a rotina de suas tardes já pré-determinava que todos se encontrariam mais ou menos no mesmo horário. Raramente faltava alguém e se caso isso acontecesse, algum outro companheiro do grupo sabia o motivo da ausência e justificava para todos os outros.

Naquela tarde, no entanto haveria mais um jogador. O grupo seria aumentado com a presença do filho do mais ranzinza, que com todo o orgulho, aquele homem que mais reclamava do que jogava, falava amorosamente do filho para todos, menos para Teobaldo. O filho estava fazendo faculdade de Letras em uma cidade grande, não muito perto dali e visitava a família apenas poucas vezes no ano.

- Tem uma vaguinha pra mim? – perguntou o jovem já se sentando ao lado de Teobaldo.

- Claro que sim! – respondeu o pai sem deixar ninguém responder algo diferente, abrindo espaço para o filho começar já na primeira passada de partidas.

Para iniciar a partida, as peças foram dadas pelo pai do estudante que distribuiu peças para todos, menos para Teobaldo que ficou olhando com o olhar triste e surpreso por não poder participar.

- Você fica de fora hoje Teobaldo. Não tem peças suficientes para você! –falou arrogante aquele homem ao velho companheiro.

Teobaldo ficou quieto, só olhando. Resolveu acatar a ordem que recebeu, já que estava dando lugar ao filho do amigo visitante naquele dia. E que por fim, nem era tão absurdo aquele pequeno sacrifício em prol da alegria dos demais.

Estavam todos jogando concentrados quando de repente um avantajado excremento de pomba caiu no meio das peças em cima da mesa. Todos ficaram enojados com a situação, menos Teobaldo, que começou a contar que aquilo lembrava do dia em que ele estava no Chile, em uma praia linda, onde as gaivotas voavam baixo próximas a casa de um poeta muito famoso, e que todas as tardes ele via um jovem carteiro trazer muitas correspondências para ele do mundo inteiro.

Já irritado com a sujeira que a pomba havia feito, o mal-humorado companheiro esbravejou com Teobaldo:

- Chega! Some daqui Teobaldo! – falou o companheiro jogando as peças para todos os lados – É pomba cagando em cima da gente e mais esse louco mentindo, falando asneiras! Haja paciência!

- Calma pai! Você está muito nervoso! – interviu o filho passivamente tentando apaziguar a situação.

Todos se dirigiram a Teobaldo e disseram que seria melhor ele ir pra casa mesmo, que aquele dia as coisas não estavam muito boas.

Sem falar nada, mas sentindo no peito uma tristeza pouco habitual e que Teobaldo sequer conseguia entender, seguiu o rumo de sua casa.

Na tarde seguinte, lá estavam todos novamente. O insuportável dono do dominó, seu filho e todos os outros companheiros de jogatina, menos Teobaldo. Iniciaram o jogo normalmente, mas logo notaram que algo estava faltando.

- Cadê o Teobaldo? – perguntou um dos jogadores.

- Não sei e nem quero saber! – falou o rabugento – Deve estar por ai atormentando a vida dos outros com suas histórias sem pé nem cabeça.

- Olha... – falou um dos mais amigos de Teobaldo – fazem quase vinte anos que sei que ele se aposentou e depois disso sei também ele nunca faltou um dia aqui na nossa mesa de Dominó.

- Nem se preocupe com esse louco, amanhã ele deve estar aqui enchendo o saco com aquela conversinha de que é rico, tem tesouro e não sei mais o que...

Seguiram as partidas, divertindo-se e distraindo-se como de costume. Por alguns instantes, poucos deles ficaram com aquela dúvida do que tinha acontecido a Teobaldo por não ter aparecido, mas ninguém disse mais nada, muito menos tomou alguma atitude de ir ver o que tinha acontecido, caso alguma coisa de fato tivesse ocorrido com o companheiro.

No outro dia, mais uma tarde se iniciava e todos foram se achegando, mas preferiram não começar a jogar como todos os outros dias. Ficaram de pé, esperando a chegada de Teobaldo, mas ele não veio novamente.

Claramente a ausência de Teobaldo preocupou os companheiros. E apesar das caras que quisessem aparentar normalidade, não era exatamente isso que estava pairando no ar. Até que um deles teve a iniciativa de propor aos demais:

- Pessoal, alguém quer ir na casa dele ver se algo aconteceu?

A maioria permaneceu em silêncio, outros se manifestaram a favor da ideia, porém o rabugento falou em tom de resmungo, enquanto já ia montando as peças na mesa:

- Vão vocês! Eu não vou perder meu tempo com isso!

Ignorando a opinião do companheiro, os outros resolveram ir até a casa de Teobaldo e ver se realmente tinha acontecido algo com ele, ou era só uma birra daquele maluco. Ao ver que todos estavam indo, o velho também se convenceu de ir junto. Mais para não ficar ali sozinho do que para conferir se havia acontecido algo com Teobaldo.

Menos de meia hora de caminhada depois, não muito longe dali, avistaram a casa de Teobaldo. A casa era uma daquelas pequenas construções antigas que todos admiravam. Lembrava uma cabana de madeira dos filmes norte-americanos. Tinha um aspecto bastante envelhecido, afinal Teobaldo não tinha como fazer toda manutenção que a casa necessitava, ainda mais com a pequena aposentadoria que ganhava.

Se aproximaram da porta da cabana, bateram palmas e um deles chamou pelo seu nome. As janelas estava entreabertas e o portão apenas encostado. Ainda do lado de fora da propriedade, não tiveram resposta nem viram nenhuma movimentação dentro da casa. Resolveram entrar no pequeno pátio que separa a casa da rua, continuaram chamando pelo velho, mas seguiu-se o mesmo silêncio desde que haviam chego.

- Tenta abrir a porta... - falou o mais jovem que acompanhava o grupo.

- Empurra que deve estar emperrada igual a cabeça daquele maluco! – Falou seu pai.

O que estava na frente dos demais, fez um pouco de força e a porta foi se abrindo com a medida de que os empurrões eram dados com o ombro. A porta também não estava trancada e não foi muito difícil de desemperrá-la.

Um cheiro fétido dominava o ambiente. Ninguém conseguia respirar tranquilamente sem colocar o braço próximo do nariz como se fosse uma máscara afim de proteger as narinas contra aquele odor, que mesmo sem ser muito forte, era extremamente desagradável. Foram entrando e todos chamavam por Teobaldo mas a única coisa que escutavam era o ranger das tábuas velhas do assoalho que pareciam gemer a cada passo que davam. O silêncio e a penumbra das janelas pouco abertas tomavam conta do ambiente, além do cheiro que ficava mais forte conforme avançavam pela sala. O ambiente estava uma penumbra, pois não havia nenhuma luz acesa.

Um dos homens que estava mais à frente dos demais, num tom apavorado disse:

- Meu Deus! O que é isso?

E todos olharam para onde o companheiro estava. Porém demoraram alguns instantes para compreender com o que haviam se deparado.

Sob o olhar de todos, havia um prato com sardinhas apodrecidas em cima da mesa e o cheiro de podre vinha daqueles peixes que estavam fora da geladeira, aparentemente a dias.

- Mas o que esse maluco anda fazendo? - Falou um dos velhos ainda tentando segurar o vômito.

Olharam para a cozinha como um todo, que não estava desarrumada ou suja. De fato aquelas sardinhas podres não combinavam com o ambiente. Pareciam ter sido abandonadas ali.

Sem mexer no prato, saíram da cozinha e seguiram lentamente para a direção do quarto até que alguém resolveu empurrar a porta, na esperança de ver Teobaldo dormindo por lá.

E sim, lá estava ele, mas não dormindo.

Teobaldo estava sentado em uma poltrona próximo da janela.

E estava sem vida. Mas com um sorriso leve estampado em seu rosto. Repousava em uma poltrona de couro marrom, já gasta pelo tempo e com ranhuras típicas do material, mas incrivelmente confortável, com uma costura artesanal que denunciava que muitos anos já haviam se passado, desde sua fabricação. O conforto que ela proporcionava só ele tinha experimentado e que o acompanhou até os últimos momentos de sua vida. Ao seu redor, milhares de livros abarrotando todos os possíveis lugares existentes naquele quarto, para muito além da sua velha estante de madeira que preenchia uma parede inteira de cima a baixo, com livros empilhados, antigos, grandes, pequenos, marcados... E em uma escrivaninha do outro lado do cômodo, logo depois da janela, estavam os últimos livros que ele tinha lido.

- Olhem isso... – falou estupefato o jovem - A conquista do México escrito por Hérnan Cortez; Hiroshima escrito John Hersey e esse, um clássico. O carteiro e o poeta, escrito por Antônio Skármeta! Gente, vocês não estão entendendo... O que ele vivia falando, da sua riqueza e do seu tesouro é isso! Todos os seus livros! Ele realmente era milionário como falava, só que ao invés de sua riqueza ser em dinheiro, era de conhecimento e experiências. E o que vocês chamavam de loucura eram as histórias que ele lia nos livros. Os lugares que ele dizia ter conhecido eram na verdade o local onde se passavam essas histórias!

Todos se olharam como se fossem cúmplices da morte do Teobaldo - Teobaldo “O Louco” que havia partido em meio ao seu tesouro.

MSIMON
Enviado por MSIMON em 16/11/2020
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