Bandeira

As fronteiras foram-se esbatendo. Após décadas de horror e carnificina o ser humano começava a cansar-se de defender causas que apenas serviam para o benefício de alguns. Não é que com os campos fumegantes houvesse vontade de sorrir, mas algo havia que fazer e acabar com a guerra era o primeiro passo a dar.

Um movimento espontâneo formou-se, espalhando-se um pouco por todo o mundo. Poder-se-ia pensar estarmos em presença de algum grupo de extra-terrestres com mente bastante evoluída e que, após longa observação, se havia decidido a pôr fim às hostilidades. Ao certo ninguém veio nunca a saber, mas a sincronia em tantas partes do mundo, entre gente que não se conhecia, dava a entender a criação de uma nova ordem mundial.

À medida que se foram organizando, verificou-se um ataque sistemático proveniente das grandes seitas que há muito dominavam o mundo. Mas, apesar de desacreditados, os novos iluminados criaram as suas raízes provocando o desaparecimento dos ditadores que apenas destruiam a memória colectiva, de cada cultura específica.

Apesar do mundo ser regido por um só rei e por uma só bandeira, havia fronteiras fortemente policiadas, de forma a evitar o contágio entre populações. Assistia-se à discriminação total e as pessoas pareciam conformar-se com a situação.

Quando tudo começou a mudar, já o mundo estava devastado pela guerra e em consequência sucediam-se os desastres naturais, a um ritmo cada vez mais alucinante. Parecia estar tudo programado para um novo recomeço.

Os recomeços para fazerem efeito necessitam de sangue a jorrar abundantemente de um qualquer orgão vital. Mais do que enfraquecer, demonstra a sua força pela subjugação do corpo, recipiente frágil da omnipotente alma, com que se defende o anjo protector de cada um. Longe da entidade assexuada que se imaginaria, tem os defeitos do homem comum, mas tem de cumprir ordens da entidade suprema. E não são admitidas falhas, mesmo que a razão seja falta de experiência. A paga é a expulsão do Paraíso, algo que não tem de ser necessáriamente mau.

Então tudo recomeçou do zero. Alguns iluminados foram escolhidos para voltar ao passado de forma a corrigir alguma falhas em procedimentos vitais que poderiam pôr em causa a mais importante marcha mundial de que havia memória.

Imaginando uma falha, a morte seria pela perseguição de um dos emissários da Morte, o mais temido emissário do além, cujos ceifeiros se auto-castigavam pelo tempo perdido a cumprir as missões destinadas.

O mundo podia estar perdido pelo brutal aquecimento global, mas jamais pela inércia dos heróis dos novos tempos, contrariando sem dó nem piedade os cavaleiros do Apocalipse, que sendo inimigos impiedosos da humanidade tinham as limitações próprias  de quem tem o seu poder subjugado a outra entidade superior.

Antes que o mundo terminasse ainda haveria de nascer uma nova bandeira a quem os seres impolutos prestariam juramento, prometendo lutar sem tréguas contra a Morte.

14 a 17-05-2010
Manuel Marques
Enviado por Manuel Marques em 01/12/2020
Código do texto: T7125147
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