Encontro

Eles se encontraram depois de muito tempo. Estudaram juntos por muitos anos. Haviam tomado rumos diferentes... Ela havia optado pela vida acadêmica; ele, pela boemia... Agora, a vida os colocava frente a frente outra vez. Estavam um pouco mais vividos... O fato é que as marcas do tempo eram evidentes em ambos. Ela já não tinha mais o aspecto da jovem desbravadora, mas era uma bela senhora. Seus olhos ainda eram vivos, mas os fios prateados em seu cabelo denunciavam não ser mais a mesma menina... Já ele, trazia um aspecto mais relaxado, típico daqueles que na juventude vivenciam literalmente o Carpe diem, mas, nem mesmo por isso deixava de ser um belo homem. Alto, apresentava olhos fundos, mas que ao conjunto não comprometia. Vestia-se quase casual e seus gestos apresentavam-se um pouco nervosos depois desse encontro inesperado com àquela que há tanto não tinha contato.

A sensação era única. Era como se o tempo não tivesse passado. Naqueles olhares havia toda a cumplicidade que a distância dos anos não conseguira apagar. Era como se houvessem se reencontrado após as férias escolares, só que, naquele instante, as marcas dos anos não permitiam que essa ilusão perdurasse por muito tempo...

- Como vai? - Disse ele, num misto de contemplação, alegria e ao mesmo tempo denotando certa melancolia. Sem disfarçar o encantamento que aquele encontro lhe proporcionava, ela abriu um largo sorriso, que os anos faziam ainda mais bonitos e respondeu:

- Muito bem. Estou muito contente por te ver. O que você fez durante todos esses anos?

- Não muita coisa... o trivial, eu acho...aproveitei o que pude da minha juventude até que em determinado momento percebi que a vida não era o parque de diversões que eu queria. Então, comecei a trabalhar e, no meio disso tudo foram acontecendo outras mudanças. Casei, tive filhos e hoje tenho meu próprio negócio...

Nesse meio tempo ele já se sentia confortável para narrar todos os acontecimentos de sua vida... Os altos e baixos, a energia gasta na concretização do sonho de montar o seu negócio, a felicidade dos filhos... enfim, ele narrava os acontecimentos de sua vida como um expectador diante de um romance no qual a personagem principal vai se envolvendo em seus dramas. Ela, que sempre fora boa ouvinte, escutava a tudo atentamente, entre embevecida e alegre. Quem olhasse a cena não imaginaria que aquelas duas almas não se viam há muito... Era possível ver o sorriso em seus lábios diante dos fatos alegres e mesmo um gesto de consolo quando ele relatou como havia sido difícil o instante derradeiro de sua esposa que, vitimada de câncer, sofrera horrores com o tratamento ao qual a doença vencera. Houve um momento em que silenciaram...

Ele quis saber um pouco mais sobre ela. Afinal, ela parecia mais altiva, elegante, mas com o mesmo olhar de outrora. Seu jeito ainda lembrava o daquela menina que escrevia versos e os colocava em sua mochila escolar. Ela contou sobre seus anos, sua formação, seu trabalho, suas viagens, casamento, filhos... por fim, disse se considerar uma pessoa feliz. Tudo o que sonhara acabou por se concretizar. Era respeitada profissionalmente e tinha dois filhos que lhe davam muito orgulho. Não estava mais casada, mas isso não lhe doía, trazia boas recordações do casamento. A justificativa:

- Ficamos muito amigos; então, para não magoarmos um ao outro, nos separamos.

Isso não parecia muito comum a ele, que se considerava amigo de sua falecida mulher e nem por isso se separaram, mas preferiu não falar nada. Conversaram horas a fio sobre a vida, os planos futuros, a expectativa da chegada dos netos, medos, anseios, as enfermidades que aparecem com a idade e os inúmeros remédios para apaziguar diferentes males e que se viam obrigados a tomar. Era uma vida inteira compartilhada em um único instante, ainda que este parecesse eterno... A magia daquele momento foi tão intensa que os dois amigos prometeram marcar um novo encontro. Trocaram os números de telefone e despediram-se... para nunca mais se encontrarem!