O Santo dos Pés de Barro

Havia numa das vielas mais movimentadas da cidade indiana de Kupash um homem que era considerado sábio e santo por seu círculo de discípulos e amigos. Adivinho, jogava contas coloridas de vidro sobre um pano preto e lia o passado, presente e futuro de quem o procurava. Essas pessoas não saiam também sem sábios conselhos e orientações de como levar suas vidas e problemas. Como gratidão, recebia rupias e presentes e a adesão eterna de seus admiradores, que voltavam a recorrer a ele de tempos em tempos.

Intrigado com a fama daquele vidente, Pador, um dos mais importantes brahmanes da região, decidiu saber mais sobre sua vida. Descobriu onde morava e foi visita-lo. Chegou a um casebre miserável, onde ele vivia junto com a esposa e um filho, com uma perna seca. A mulher, extremamente maltratada, cuidava do rapaz inválido. Intimidada diante da autoridade do sacerdote que a inquiria, confessou que o marido em casa não era a mesma pessoa que aparentava aos outros. Agressivo, desatinado, desequilibrado, não tinha paciência para nada. Ao filho deficiente, ao invés de dedicar os conselhos carinhosos que destinava aos seus consulentes, ralhava. Dizia que lhe faltava "força de vontade" para sair de sua situação, que ele estava fingindo... Diante de qualquer problema não tinha a menor confiança nos deuses, não tinha a fé que apregoava aos demais. Entrava em desespero, chorando e praguejando contra a vida. Era um santo com os pés de barro...

Disso o brahmane concluiu: nunca procure quem vende conselhos, não antes de saber como de fato ele cuida e aconselha os seus. É muito fácil acolher um estranho. Difícil mesmo é tratar com amor e dedicação quem te acompanha na roda karmica. Essa sim é uma relação verdadeira... De uma vida de verdade que não é aparência, mas essência...