CONSPIRANDO COM A ILUSÃO (BVIW)
 

Talvez por uma questão de  carência, exerça sobre mim um fascínio  especial as histórias que começam por “era uma vez”, e que não me foram contadas. Criança quis ouvi-las. Adulta quis escrevê-las. Hoje, a frustração do fato anterior bloqueia-me a imaginação e sei apenas dizer: "era uma vez". Minhas homenagens, portanto, a Clarice Lispector, que foi mais além e conseguiu: ”Era uma vez um pássaro, meu Deus”. Homenagem esta, extensiva a todos àqueles dedicados escritores que, com a sua imaginação abençoada, foram e são capazes de povoar  mentes  infantis de sonhos tão necessários, não importando que mais tarde nos transformemos no escravo citado por Descartes, que gozava de uma liberdade imaginária e quando começou a suspeitar de que essa liberdade era apenas um sonho, temeu ser despertado e conspirou com essa ilusão agradável para ser mais longamente enganado, permanecendo na sonolência a ter que enfrentar o conhecimento da verdade que lhe viesse esclarecer as trevas das dificuldades que teria de enfrentar vida  afora.
Fico por aqui  , mas antes tenho que encaixar o “acabou” para tanto  só me cabe fantasiar sentada numa beira de calçada   jogando pedra na lua, conspirando com a ilusão , sem riso aberto de alívio pelo teu ir, porque me dói a certeza do teu não mais vir. DO ACABOU.
Zélia Maria Freire
Enviado por Zélia Maria Freire em 12/01/2021
Reeditado em 12/01/2021
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