Ressignificar

O tempo passa e a gente não vê. Os amores passam, nossos pais vão embora e só fica a saudade deles. Não falo mais com meus irmãos eles parecem distantes de mim. A solidão de uma casa vazia, dos porta-retratos espalhados pelo móvel da sala, dos quadrinhos pendurados nas paredes com retratos dos familiares. A poeira, as teias de aranha cobrindo tudo, a sujeira e a sugestão de dias melhores.

As ruas vazias, de calçadas estreitas, de crianças correndo descalças no asfalto ardente sem se importar com as marcas e as bolhas. Cadeiras balançando, cabelos brancos, agulhas caindo e os embaraços de linhas coloridas desembaraçadas deitadas nos colos, dormindo.

Carrinhos e bonecas deixados de lado. Dedos velozes, olhos desatentos esquecendo o passado. Onde foram parar nossas crianças? Cadê nossos jovens tão vivos? Hoje estão mortos, jogados nas sarjetas, engolidos por copos sujos.

Vi meu futuro tenebroso em nuvens negras. Desisti de ver o sol nascer ao me deparar com aquilo que eu fui um dia. Uma criança assustada, com medo do futuro e com o passado grudado como lama na lente dos óculos. Inútil, medroso, imprestável. Foram palavras que eu ouvi e ainda ouço ecoar na minha mente. Às vezes eu me importo, mas eu sei que isso não tem nada de importante.

Um dia alguém me disse:

- Você chegou até aqui e ressignificou sua vida.

É isso que eu vou fazer...

Fernando F Camargo
Enviado por Fernando F Camargo em 07/03/2021
Código do texto: T7200887
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