Encontros I

Sentei fechando os olhos. Respirei profundamente abrindo os sentidos e calmamente olhei o relógio: quase meia hora antes do horário marcado. Perfeito!

Pedi um chá de limão, chávena grande. Assim pude construir maiores círculos e observar melhor a humidade trocando suaves vapores com o ambiente. Isso acalma-me e arrefece o chá mais rápido. Adoço ou não? Dúvidas... lembrei que tinha cubinhos de gengibre comigo, inventei! Ficou bom!

Enquanto sorvia vagarosamente aquele líquido, sentindo-o inundar e aquecer meu corpo, vi passar o filme da minha vida. Olhos perdidos no vazio. Tentava acelerar, estava desconexo, não me via naquele roteiro. Até que surgiram os últimos anos, meses. Intensos. Apostas, descobertas, desilusões. O mundo de cabeça para baixo, o meu!

Não te vi chegar, assustei-me, riste! Rimos junto de nossa timidez até que finalmente nos abraçamos. Incrível a sensação de tudo girar em câmara lenta e poder sentir teu cheiro, toque, cabelos roçando a minha face e o coração batendo, no ritmo do meu. Uma parte de mim ficou ali, naquele momento, eternizado na memória. Não tinha nenhuma noção do que aconteceria a partir dali, mas a energia que senti foi marcante.

Sentamos, olhares tentando achar alguma maturidade pois parecíamos dois adolescentes. Respiramos fundo quase ao mesmo tempo, marcando o início do embate: expectativas x realidade. A conversa fluiu tranquilamente, mas a impressão que eu estava perdendo algum detalhe era latente, queria ter um papel para anotar tudo o que ia captando... o movimento que teus dedos compridos faziam acompanhando o dos cabelos que por vezes precipitavam-se pela face, o arrumar nervosamente o decote que juro fazia um enorme esforço para não devorar e palavras que saiam doces e calmas da tua boca. Aliás, que boca! Que olhar... Foram eles que me fizeram calar, deixar a conversa cair num silêncio revelador, acompanhaste-me.

A percepção que palavras não quebrariam a timidez mutua presente nos fazia sorrir. Nervosamente...

Escolhi uma música e meu telefone passou a dominar o ambiente. Estendi a mão, a tua veio ao encontro. Nossos corpos envolveram-se, calor e química arrepiavam. Mãos leves percorriam a pele, plena de sensibilidade. O som dava ritmo excitante, cadenciando o tempo, ampliando o espaço. Não sei quando senti teu cheiro perdendo-me no teu pescoço. Quando senti teu sabor achando-me em teu olhar, lábios colados. Não sei... Mas tenho quase certeza que isso aconteceu. Quando a música acabou nossos olhos estavam húmidos e até hoje o envolvimento daqueles minutos permanecem vivos na minha memória. O que aconteceu depois? Só nós sabemos! Ou não...

Fernando Antunes
Enviado por Fernando Antunes em 09/04/2021
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