Encontros III

Sentado esperava o chá perder calor. Tempo nublado, as pessoas espalhadas pela esplanada quase não se moviam, falavam baixo. Até que um raio de sol despontou e inundou o rio, que figurava imponente na paisagem, de luz e energia. Curiosamente as nuvens foram se afastando de uma forma que só o rio se iluminava. Todos ali demonstraram perceber esse fenômeno, um silêncio de êxtase ficou presente até sermos brindados por um foco de luz que parecia também exclusivo. Cadeiras rapidamente foram movimentadas e todos passaram a alimentar-se daquela energia, calor.

Meu corpo pareceu arrepiar-se, os poros abriam-se, os aromas ressurgiam. Respirei fundo e fechei os olhos. Tudo que precisava para acalmar minha mente inquieta e o medo companheiro.

Aproximação tímida, sentas procurando também um espaço brindado pelo sol. Quando as primeiras palavras surgem não mais param. Parecíamos ávidos para encontrar respostas antes mesmo de desenharmos as perguntas. Aferir expectativas, entender o que imaginações férteis podem criar.

Tristeza e desespero foram tomando conta de nossas almas. Convergências etéreas não bastam. Há um sem número de conexões que tem de ser criadas ao vivo, em todas as dimensões. Faltava sintonia, química, pele. Não era possível, mas a realidade estava ali estampada friamente aos nossos olhos.

Sorrimos de alívio. Há histórias que se convertem em roteiro de filme, outras viram enredo de fracasso. A nossa parecia se transformar numa amizade fundida em palavras, literária.

Senti uma mão pesar sobre meu ombro e meu nome ser pronunciado por uma voz doce com sotaque único. Abri os olhos e te vi cumprir 180° de leveza e extrema beleza. Apaixonei-me pela forma de sentar, acomodar bolsa e casaco na cadeira do lado, apoiar os dois cotovelos na mesa, sorrir e perguntar: sonhavas?

Até hoje revivo a sensação de felicidade ao naquele momento simplesmente sorrir, refletindo que sonhava sim... agora acordado. O tempo passou, a vida deu boas voltas, sempre que vejo o sol contornar nuvens, abrindo espaço para inundar de vida pobres mortais, corro para estar no caminho daquela luz. Fecho os olhos e deixo minha mente transportar-me de volta aquele momento. Uma lágrima escorre por minha alma e com um sorriso farto salta do meu peito um grito surdo: foi bom! Valeu cada palavra encadeada!

Fernando Antunes
Enviado por Fernando Antunes em 09/04/2021
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