Triste manhã

 

 

 

Amanhecia. O ar frio da manhã enregelava seu rosto e provocava aquela coriza irritante, trazendo-lhe lágrimas aos olhos. Ela se aproxima da casa e bate à porta. Espera. Bate outra vez e a porta, rangendo se abre como empurrada por mão invisível. Helena entra, desconfiada, olhando a cozinha em penumbra e descobre o corpo da velha senhora que jazia solitário e imóvel; se aproxima e olha dolorosamente aquele rosto querido e apaziguado, a cabeça apoiada à mesa que nenhuma alma caridosa pensou em amaciar.

Prática busca velas e apanha quatro delas, acendendo uma em cada canto da mesa. Encosta as cadeiras na parede lateral e desce os dois degraus que leva ao pequeno pátio onde encontra algumas florezinhas silvestres que ela arruma entre os dedos da velhinha. Abre a porta e a janela, para que o vento da manhã cinzenta possa entrar. Olha a sua volta. Tudo está em ordem, agora já pode chorar.

 

                                                                Célia Regina Marinangelo

 

                                                                                                                                                                       2/11/2007