As Três Bruxas da Noite

O dia finalmente havia chegado e ali lembrei-me de tudo que passamos para esse grande momento.

Tudo começou quando ainda éramos estudantes.

Tínhamos planejado um ousado assalto a uma das joalherias mais conceituadas da cidade e tudo estava indo bem até a polícia aparecer.

Conseguimos fugir, mas Cristina não teve tanta sorte e foi morta por três tiros.

Pra piorar, Diana e eu fomos presas quando tentávamos sair da cidade.

Fiquei sabendo pelos guardas que minha tia sofreu uma síncope fatal. Aquilo me deixou arrasada, mas isso não foi o pior.

Uma das celas foi aberta por dois vagabundos que atacaram

Diana e a mim da forma mais cruel.

Quando tudo parecia perdido, ouvimos gritos e vimos outro homem de porte majestoso e semblante tranquilo.

Era Vossa Majestade em pessoa.

Ele pagou nossa fiança e nos tirou da cadeia.

Naquele momento, não tínhamos nada a perder e aceitamos sua proposta de juntar-se a ele.

Fomos ao Porto e paramos em uma praça próxima da antiga Alfândega. Ali Luiz Otávio nos falou de seu plano de trazer a paz pra essa cidade e precisaria de nós três.

Mas como?

Foi então que entendi seu plano. Ele tirou do bolso interno do paletó um pequeno livro de magias que trouxe de Portugal onde havia um encantamento para ressuscitar pessoas mortas.

E foi exatamente o que aconteceu.

Fizemos da forma correta e Cristina voltou a vida.

Assim que mostramos o livro a Cristina, senti meu corpo tremer e desmaiei.

Quando acordei, descobri que tinha adquirido o poder do gelo.

Diana tinha tocado o livro e sentiu um choque violento e Cristina, ao fazer o mesmo, sentiu sua mão queimar.

- Savana, o livro queimou minha mão e eletrocutou a Diana. Que porra foi essa?

- Vocês também adquiriram poderes. O seu é do fogo e o da Diana é eletricidade. Com nossos poderes iremos botar essa cidade de pernas para o ar.

E assim começamos nossa nova vida. Éramos como as Panteras esperando ordens do Charlie.

Passamos semanas treinando nossas novas habilidades á espera do chamado de Vossa Majestade.

Durante o treinamento, ficamos sabendo que nosso mestre havia sido derrotado por Mário Vianna em um combate na ponte velha do São Gonçalo.

Outro duro golpe pra nós. Logo agora que aprimoramos nossas forças!!

Estávamos nos preparando pra voltar a cidade quando Diana havia visto na orla o corpo de um homem que estava bastante machucado.

Era nosso mestre.

Estava a beira da morte e não dominávamos inteiramente as magias de cura.

Canalizamos então toda nossa energia para curá-lo e aos poucos, ele readquiriu as forças.

Desmaiamos devido á exaustão. Nem sei quanto tempo se passou, mas quando acordamos, ele estava preparando nosso jantar com seus mantimentos.

Depois nos levou até um compartimento secreto no porão de uma casa abandonada. Lá encontramos três enormes caixas e quase caímos pra trás quando abrimos.

Havia diamantes, joias, e muito ouro.

Ele, em troca, nos deu três missões: libertar Leopoldo, ressuscitar Sandro e reconstruir a base de apoio para seu retorno triunfal.

Era hora de nosso batismo de fogo como bruxas.

A primeira tarefa foi fácil. O plano era explodir os transformadores, abrir as celas para os presos e tirar Leopoldo e os guarda-costas do mestre na cela onde estavam.

Não tinha erro.

Foi tão fácil que nós nos divertimos muito. Diana explodiu os transformadores com seus relâmpagos causando a falta de energia elétrica, Cristina ateou fogo nos portões libertando os presos e eu quebrei o portão da cela de Leopoldo com o ar gelado.

- Eu sabia que meu patrão nunca me abandonaria. Mas afinal quem são vocês?

- Que descortesia a nossa. Meu nome é Savana e estas são Diana e Cristina. Somos as bruxas de Vossa Majestade. Assim que soubemos que tu estavas vivo, resolvemos libertá-lo para nos ajudar.

- E o que aconteceu com o patrão Luiz Otávio?

- Foi obrigado a fugir. Mas tenho certeza de que em breve voltará.

A fuga foi tranquila porque os policiais ficaram ocupados demais na tentativa de recaptura dos presos.

Mas para garantir, dividimos em dois grupos. Leopoldo e eu iriamos pelo Centro usando meu Ford Ka vermelho enquanto que Diana, Cristina e os guarda-costas foram com a van passando pelo Porto.

Deixamos Leopoldo, John e Terry dentro do armazém abandonado e fomos para o IML rumo a nossa segunda missão que era recuperar o cadáver de Sandro.

Foi mais fácil falar do que fazer. Carregar um corpo em estado de decomposição avançada não era uma tarefa das mais agradáveis e Cristina vomitou duas vezes antes de conseguir colocá-lo para o porta-malas do carro.

Pra piorar as coisas, a cabeça não estava lá e o tempo era curto. Foi então que tivemos um golpe de sorte.

Cristina pediu para vomitar em uma lata de lixo mais próxima e encontrou um saco verde na lata vizinha.

Nele estava a cabeça de Sandro.

Voltamos ao armazém onde Leopoldo, John e Terry estavam a nossa espera e colocamos o cadáver de Sandro deitado em uma mesa.

- Diana, trouxe a cabeça dele?

- Tá aqui, Savana. Mas temos que ser rápidos antes que a pele da cabeça se dissolva.

- Vou ajudá-las, meninas. Vocês me libertaram e farei qualquer coisa pra trazer meu patrão de volta a Pelotas.

- Se falharmos na ressurreição, Leopoldo, tu podes morrer e não queremos que isso aconteça. É parte vital do nosso plano.

- Não importa. Façam o que tiver que fazer.

E assim fizemos o ritual que precisava de sangue humano cujo encantamento era em latim. Por sorte havia uma versão em português e com a ajuda de Leopoldo conseguimos executá-lo corretamente.

O problema é que o sangue não era suficiente e o ritual estava a ponto de falhar quando tomamos uma decisão drástica.

Usamos uma magia proibida para drenar o sangue de John e Terry em outro pote para mesclar com os nossos.

E assim começou a ressurreição de Sandro. Primeiro a cabeça foi unificada ao pescoço, depois seu corpo voltou a ter carne e por último, seu cérebro foi reconstruído graças a um eletrodo que Diana havia colocado em sua cabeça.

No entanto, assim que voltou a vida, sentiu uma forte dor de cabeça e desmaiou.

Quando acordou, nem parecia o Sandro que imaginávamos. Era outra pessoa mais patética e abobalhada.

Achei que a magia tinha falhado, mas descobri algo interessante.

O cérebro dele foi muito afetado pela decapitação e sua memória foi prejudicada. Mas o importante é que estava vivo.

Para evitar que a memória fosse destruída, utilizei uma espécie de bloqueio hipnótico para garantir que aquele lado sombrio fosse preservado.

Ele seria parte vital de nosso plano infiltrando-se na sociedade. Ninguém dará bola a um debiloide, mas nós sabemos que por trás dessa aparência pueril, se esconde o verdadeiro Sandro.

- Fique calmo, meu bem. Por enquanto seja uma pessoa normal e alegre, mas dentro de seu cérebro há uma parte adormecida de seu verdadeiro eu e logo isso despertará. Não doeu nada.

- Obrigado, mamãe. E aquele senhor ali é meu vovô?

- Sim. E aquelas ali são suas tias Diana e Cristina. E o vovô tem um presente pra você.

Leopoldo entregou a ele uma camiseta do Ace Ventura que era seu herói de infância.

- Puxa, a Cris vai gostar muito. Ela deve estar me esperando com aquele café maravilhoso. Depois disso me reunirei com meu amigo Marcelo para capturar Mário Roichovsk Mosk que está aterrorizando Pelotas.

- É claro, meu querido. Vá encontrar sua namoradinha, mas cuidado com os vagabundos.

- Sim, mamãe. Sou o Ace Ventura!!

Ele se despediu das meninas com uma mesura e partiu.

Notei que Leopoldo estava preocupado com a situação de Sandro e procurei tranquiliza-lo.

- Ele não vai nos trair, senhorita Savana?

- Vamos dar um tempo a ele, Leopoldo. No momento certo, ele mostrará sua força.

Depois usamos uma pequena parte da fortuna pra recomprar a mansão do Laranjal e ficamos maravilhadas com o que vimos.

Embora grande parte dos móveis tenha sido confiscado pela Receita Federal e posta a leilão, o que ficou seria o suficiente para nós se estabelecermos.

Num dos quartos encontramos todas as armas do mestre. Katanas, espadas bifurcadas, lanças e até a famosa espada de Ranmaru Mori.

Encontramos alguns formóis, uma geladeira vazia e a famosa sala de “troféus” de Vossa Majestade.

Mas foi no porão que ficamos ainda mais embasbacadas. Encontramos algumas motosserras e furadeiras que ainda estavam funcionando e uma mesa onde as vítimas eram colocadas.

O trono dourado ainda estava lá e nós a deixamos novinho em folha para que nosso mestre ficasse confortável.

Abrimos uma porta do lado do trono e havia uma garagem cheia de carros desde Ferrari e Lamborghini Diablo até uma réplica de um Impala usado em Supernatural.

Assim começamos a terceira parte do plano intitulado “Operação João e Maria” onde atrairíamos as vítimas até a mansão, Leopoldo faria um belo café da manhã para engordar o porco, abateríamos o incauto e guardaríamos a carne para nosso mestre.

E assim foi feito.

Durante algum tempo, fizemos muitas vítimas usando nossa sedução para atrai-los a uma noite de luxúria, um café da manhã reforçado e depois disso, acionamos um dispositivo embaixo da cadeira para acabar com os infelizes.

Leopoldo nos ensinou todo o processo de retirada da carne e com nossos poderes, o trabalho ficou mais fácil.

De alguma forma, estávamos nos vingando desse povo maldito por ter nos maltratado.

Um dia, recebemos a notícia tão esperada por nós.

Ceará nos informou de que havia terminado seu trabalho na África e estava a caminho de Pelotas.

Depois de andar por toda essa cidade anunciando a chegada de nosso mestre, temia que a polícia nos descobrisse através de denúncia anônima.

Mas meus temores eram infundados. Fomos as Doquinhas onde a multidão já o aguardava.

Estávamos bem vestidas para recepcioná-lo e Leopoldo parecia mais jovem com seu terno e sobretudo.

Foi então que chegou o grande momento e quando o barco atracou nas Doquinhas, a gritaria foi geral.

Ele estava acompanhado pelo seu cozinheiro Kazadi e seus novos guarda-costas Lobilo e Lumumba.

Todos gritavam seu nome e ele ficou muito surpreso com a recepção calorosa da multidão.

Foi até Leopoldo e deu um forte abraço nele. Deixamos os dois sozinhos e fomos patrulhar as proximidades para ver se havia alguma ameaça.

Felizmente não havia nenhum inimigo por perto e fomos até ele que sentia a emoção de pisar em solo natal.

Então discursou para a multidão e para nossa surpresa, pediu para que ficássemos do lado dele.

- Meus amigos, confesso que estou surpreso pela recepção que tive. Nunca esquecerei da lealdade de vocês e prometo que farei essa cidade forte e pujante outra vez. Mas hoje sou apenas um mero coadjuvante dessa história. Quem merece os créditos do protagonismo são estas três jovens que arriscaram suas próprias vidas para trazer-me de volta nos braços desse povo tão sofrido, enfrentando sozinhas todo tipo de adversidade para termos esse grande momento juntos. Savana, Diana e Cristina. De hoje em diante, serão conhecidas como “As Três Bruxas da Noite”.

Foi maravilhoso. Jamais sairá da minha memória esse dia que fomos reconhecidas pelo nosso trabalho.

Ouvindo nossos nomes sendo gritados pela multidão me fez chorar de alegria. Diana e Cristina estavam tão emocionadas quanto eu e naquele momento lembrei-me de minha tia que certamente ficaria orgulhosa de mim.

Depois de retornarmos a mansão mostrando a Vossa Majestade as mudanças que fizemos, fomos ao Totó para renovar nosso juramento prometendo tingir a Princesa do Sul de sangue e acabar com aquele miserável chamado de Nêmesis por nosso mestre junto com seus incômodos aliados.

Nossa batalha estava prestes a começar.

MarioGayer
Enviado por MarioGayer em 09/04/2021
Código do texto: T7227912
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