O mendigo, a mulher e São Francisco

O mendigo, a mulher e São Francisco.

Um dia, uma mulher caminhava de volta ao seu lar, quando viu uma cena que partiu o seu coração...

Um mendigo bateu à porta de uma casa, pedindo um pouco de comida. Ele carregava uma lata de leite enferrujada, que usava para colocar o alimento que recebia.

O pobre homem parecia invisível para o mundo. Seus cabelos compridos escondiam parte de seu rosto sofrido. Seu corpo magro era tão frágil, tão desprotegido. Sua pele era maltrada pelo sol e pela sujeira acumulada. Naquela visão de sofrimento e de abandono, eis que o olhar reluzente e profundo daquele homem atravessou a alma daquela mulher, que caminhou em direção a ele.

Percebendo que fora notado, ele sorriu gentilmente para a mulher, enquanto aguardava o dono da casa trazer algum alimento.

Antes que a mulher pudesse alcançar o pobre homem, o dono da casa (onde mendigo foi pedir a comida) entregou a lata cheia de pedras, chamando aquele sofrido homem de vagabundo e o ameaçando com uma arma.

Aquele rosto anônimo deixou cair a lata, enquanto corria para se defender. Algumas pessoas que o viam correr, viravam-lhe o rosto, outras o chamavam injustamente de ladrão.

A mulher sentiu o coração se contorcer de dor! Um misto de tristeza, de indignação e de impotência fez com que ela se prostrasse de joelhos no chão, chorando compulsivamente, enquanto os transeuntes a consideravam louca.

Alguns minutos depois, já com as pálpebras inchadas e com o nariz vermelho de tanto chorar, a mulher se levantou e continuou o seu caminho até chegar em casa. Ao caminhar, ela ficava pensando naquele olhar tão reluzente e profundo.

" Será que ele já teve família ou cresceu nas ruas, sem ninguém?", " Será que alguém pode estar procurando por ele","Quem ele era antes de ficar naquela condição?", " Por que eu nunca o tinha visto antes?" Essas eram algumas das perguntas que ela fazia a si mesma, durante o seu percurso.

Ao chegar em casa, foi recebida por seu gato e por seu cachorro, como de costume. O cachorro saltitava de alegria, enquanto o gatinho se enroscava em sua perna.

Depois de tomar um banho relaxante e de colocar a comida para seus bichinhos de estimação, ela não teve coragem de jantar.

A cena que vira, a tamanha violência que presenciara, fez com que ela perdesse a paz interior e a fé na humanidade. Ela, então, chorou profunda e amargamente. Mas percebeu que não poderia se deixar sucumbir pelo desespero. Nesse exato momento, ela se lembrou do Pobrezinho de Assis, o santo a quem tanto amava. Começou a orar como ele: "Senhor, fazei de mim um instrumento de vossa paz!" Seus animaizinhos foram confortá-la, enquanto ela orava. Foi quando ela teve a ideia de assistir ao filme " Irmão Sol, irmã Lua". Abraçadinha aos seus peludinhos, ela sentou-se no sofá e, assistindo ao filme, adormeceu. Em seu sono profundo, um maravilhoso sonho surgiu.

Eis que ela andava por um lindo campo, repleto de flores, borboletas e pássaros. Uma sensação inefável de paz envolveu seu coração. Foi quando ela avistou o que parecia ser o resquício de uma antiga construção. Desse lugar, uma luz intensa irradiava! Andorinhas cantavam alegremente, como a convidar a mulher a conhecer aquele local.

Ela andou em direção às ruínas da antiga construção e olhou para seu interior. Nesse momento, encontrou São Francisco de Assis, ajoelhado diante da Cruz de São Damião. Ele estava orando, rogando a Deus Pai, em nome de Jesus Cristo, por misericórdia e paz para todas as criaturas.

A mulher foi se aproximando de Francisco, que estava de costas para ela. Quando Francisco virou-se, a mulher foi impactada. O olhar dele era semelhante ao do pobre mendigo que fora maltratado. Sem forças para se manter de pé, a mulher sentou-se no chão, chorando desconsoladamente.

Francisco correu em seu auxílio, enxugando suas lágrimas e beijando sua testa.

Seu olhar, transbordante de paz, transmitiu serenidade à alma da mulher. Foi quando ele perguntou:

- Por que você chora?

A mulher, soluçando, respondeu:

- Choro porque a dor me consome. Choro porque a indiferença ao sofrimento do outro se apassou de muitos corações.

Olhando profundamente nos olhos daquela mulher, o santo comentou:

- Nosso Senhor nos disse que teríamos aflições nesse mundo, mas que deveríamos ter bom ânimo. Também nos disse que, mesmo nas provações, deveríamos dar glória a Deus por todas as coisas.

Confusa e perdida, a mulher questionou:

- Mas como posso fazer isso, se há tanta maldade no mundo? Eu me sinto triste e impotente.

Sorrindo serenamente, Francisco respondeu com ternura:

- A alegria do Senhor é a nossa força, nada pode nos separar do amor Dele, nem mesmo a tristeza profunda.

Repare nessas andorinhas. Veja como são felizes cantando em glória ao Criador! Elas sabem que nada faltará a elas, pois Deus Pai supre todas as suas necessidades. O mesmo ocorre com a humanidade. Em sua benevolência e misericórdia, o Criador abençoa abundatenente a Terra, de modo que ela gere o alimento necessário a todos. Mas, por egoísmo e ganância, há quem nunca compartilhe o pão com o irmão. Há quem queira somente para si as bênçãos que Deus oferta a todos nós.

Ouvindo as palavras de Francisco, a mulher quis saber:

- Como podemos mudar isso?

O Santo segurou firmemente nas mãos dela e disse:

- Restaurando a Igreja de Nosso Senhor. A verdeira Igreja onde guardamos nossos tesouros, o templo interior do nosso coração.

Com o semblante iluminado, a mulher perguntou:

- Por onde podemos começar?

Com o doce olhar de uma criança, Franscisco recomendou:

- Fazendo com que a humanidade relembre as virtudes que se perderam com o tempo.

- Quais? Quis saber a mulher. O santo, então, explicou.

- A humildade, a coragem, a sabedoria, a unidade e a compaixão.

A humildade nos faz lembrar da nossa origem, pois nós viemos do pó da terra. A humildade nos ensina que não há pessoas superiores ou inferiores. Ela nos ensina que todos os seres merecem respeito, dignidade e importância.

A coragem, como o próprio nome diz, significa agir com o coração. Quando agimos com o coração, somos verdadeiramente livres.

A sabedoria nos faz sentir o sabor do verdadeiro conhecimento à luz dos Evangelhos, pois as palavras sábias são como favos de mel, que adoçam a alma e promovem a saúde do nosso corpo.

A unidade do Espírito Santo nos revela que somos um só corpo em Cristo, Nosso Senhor, e que não pode haver disputas ou discórdias entre as partes do mesmo corpo. Assim, precisamos de união, precisamos pensar uns nos outros, amando e honrando nossos semelhantes.

A compaixão nos pede que choremos com os que choram, que sejamos solidários aos irmãos que sofrem, tomando parte de seus sofrimentos para aliviá-los. Significa se importar com o outro e servi-lo com amor, oferecendo alento à sua dor.

Maravilhada com as palavras de Francisco, a mulher pediu-lhe:

- Francisco, ajude a restaurar a Igreja que há em cada coração. A humanidade precisa de paz e de esperança para que tenhamos um mundo melhor.

Com o olhar manso e bondoso, Francisco respondeu:

- Clamemos ao Maravilhoso Conselheiro, ao Príncipe da Paz, ao Cordeiro de Deus, Àquele que tirou os pecados do mundo e que nos deixou a Sua paz.

A paz está dentro de cada um de nós, basta que a reconheçamos em nossas atitudes, pensamentos e crenças. Quando fizermos isso, ela se manifestará dentro e fora de nós, abrindo um novo caminho de paz, de luz e de bem a toda a humanidade.

Com um reluzente sorriso no rosto, Francisco abraçou fraternalmente aquela mulher. Ela sentiu a profunda paz que emanava do coração puro daquele santo, que fizera os votos de pobreza, obediência e castidade para cumprir os desígnios que Deus Pai lhe confiara.

- Paz e bem, mulher! Entregue o seu caminho ao Senhor, confiando plenamente nos propósitos Dele. Seja um instrumento de paz na Terra.

De repente, a mulher sentiu algo gelado em seu rosto. Era o focinho de seu adorável cachorro, que a despertara do lindo sonho que teve. O doguinho queria passear cedinho e acordou sua dona para que ela o levasse à praça.

Ao caminhar com seu bichinho, eis que ela reencontrou o mendigo que vira no dia anterior. Ele dormia em posição fetal, com um semblante triste e amargurado. Foi quando ela teve a ideia de comprar um lanche e colocar ao lado dele.

Depois que colocou o lanche pertinho do pobre homem, ela sentiu que aquilo não era o bastante e pensou.

"Sou muito grata a Deus por tudo o que Ele me oferece. A maneira mais bela de demonstrar essa gratidão é ajudando os meus semelhantes. Amar as pessoas incondicionalmente é o tesouro mais valioso que podemos guardar no coração. Eu farei mais por este homem."

E assim foi feito! Ela aguardou que o homem despertasse e se ofereceu para ajudá-lo. Descobriu que ele tinha uma linda história e que seu sonho era reencontrar sua família. Ele viera de outro estado, em busca de emprego. Mas fora assaltado, perdendo tudo o que tinha: roupas, documentos e dinheiro. Ele disse o quanto se sentia triste e humilhado pelo fato de as pessoas o julgarem. Disse que se sentia invisível e ignorado por todos. Ele revelou:

- Nesses dois anos em que moro nas ruas, você foi a única pessoa que me enxergou como um ser humano. Eu agradeço muito por sua ajuda.

- Meu bom homem, todas as pessoas merecem consideração e carinho. Logo, logo, você estará em sua casa, no seio familiar, aproveitando cada momento. A propósito, qual o seu nome?

- Eu me chamo Francisco, minha querida benfeitora. Foi esse o nome que minha mãe escolheu para mim, depois de sonhar com São Francisco de Assis, quando estava grávida.

Mal acabara de falar, uma linda andorinha pousou em seu ombro, enquanto a mulher contemplava a cena maravilhada! Ele tomou a andorinha em suas mãos e disse:

- Deus cuida deste pequeno pássaro e cuida de nós também. Louvado seja o Senhor por todas as suas criaturas.

Emocionada, a mulher sorriu. A andorinha se aconhegou confortavelmente entre as mãos daquele bom e gentil homem, que dali em diante nunca mais se sentiu sozinho.

E foi assim que uma linda amizade surgiu, mudando a vida dele e da mulher que o ajudara. Anos depois, ela tornou-se sua nora, ao se casar com seu filho mais velho. Para a alegria de toda a família, ela teve filhos gêmeos, batizados com os nomes Clara e Francisco.

Autoria: Maria Cleide da Silva Cardoso Pereira

(MCSCP)

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Maria Cleide da Silva Cardoso Pereira (MCSCP)
Enviado por Maria Cleide da Silva Cardoso Pereira (MCSCP) em 09/04/2021
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