CHE QUEVARA

Esta é uma obra de ficção e os aspectos apresentados são mera coincidência.

CHE QUEVARA

De onde veio, uma incógnita.

De acordo com seus relatos, disse que veio de Cuba.

Também comentava que era formado em Psiquiatria, mas não gostava da Psiquiatria tradicionalmente ensinada e praticada no seu país, até se decidir ir atrás daquele escolhido e identificado como seu “guia”. Também queria pesquisar e praticar, além de aprofundar-se nos ramos alternativos da sua especialidade. Considerava que os doentes não eram como ganado e mereciam um tratamento diferenciado bem de acordo com seus problemas e personalidade.

“ A cada uno , cada uno” não se cansava de repetir.

Um belo dia, tomou conhecimento através de um exilado brasileiro da existência do Analista de Bagé. Era o que desejava: um psiquiatra não tradicional que praticava a profissão com métodos também pouco tradicionais. Mas onde encontrá-lo? Descobriu que era no Brasil, mas onde? Daquele país só sabia de Pelé e de sua capital: Buenos Aires. Achou que com isso não teria problemas , nem com a língua natal. Como chegar lá? Teria de salir de Cuba. Si, Si e como no? Tinha um amigo balsero que o deixaria em Miami e de lá procuraria seu destino. Teria de contatar inúmeros brasileiros , primeiro para saber se Bagé se escrevia com G ou J. Deu sorte de encontrar um estancieiro bageenses que fora gastar o dinheiro de uma terra que tinha vendido para o INCRA," não dava nem cupim" dizia, mas informou onde era a cidade e como chegar, detalhadamente, mas antes pediu para não falar nada que lhe encontrou, pois estava com a segunda montada.

- Pero, que es segunda montada?

- Tchê, não me pergunta. Lá em Bagé tu vais saber.

Ao chegar em Porto Alegre, não habituado com a loucura dos motoristas de táxi, foi atropelado na Farrapos e acordou três meses depois num Hospital Psiquiátrico. Não estava acostumado, “ em Cuba no tenemos muchos coches...”

- A mi no me gusta la violencia. Soy de paz y amor, sempre dizia quando lhe perguntavam se seguia a doutrina do seu irmão.

A luta armada não era com ele. Afinal estamos no terceiro milênio, Era de Aquarius, paz e amor, amor e paz e adelante.

Certo dia, notou um alvoroço no hospital: tinha chegado uma doente mental, lindíssima. Uma loira de Bento Gonçalves, um verdadeiro monumento. Olhou para o pátio e viu uma enorme fila defronte a uma janela. Chamou o enfermeiro e nada. Outro enfermeiro e nada, o médico e........ nada. Resolveu levantar da cama e ver o que estava se passando. Todos estavam numa fila passando a mão na bunda da loira que estava toda para fora da janela. Ele nunca tinha visto igual, um traseiro para 500 talleres. Ficou indignado com o que estavam fazendo com a doente, mas entrou na fila.

Foi nesta hora que notou que não estava num hospital comum e sim num destinado a doentes mentais. Depois soube que não havia vaga para sua recuperação em hospital adequado, e como ele não falava nada, nem tinha documentos, foi remetido para o manicômio. Porém, estava sendo bem tratado e recuperando-se a contento.

Já sabiam que era cubano formado em psiquiatria e conforme dizia era o irmão bastardo do Che Guevara, e era a cara do conhecido guerrilheiro marxista. Nem ele sabia o certo, pois não conhecia seu pai.

“Que Diós lo tenga” sempre dizia ao se referir ao genitor.

Mas suas posições eram diametralmente opostas.

No manicômio encontrou campo fértil para desenvolver suas próprias teorias, “louco é que não falta aqui”. Português aprendeu na marra, e até já se comunicava com um portunhol inteligível.

Até que um dia a Loira de Bento , dizendo-se que era a Cicciolina, veio ao seu encontro. Quando se viram , se atracaram como “ los tiburones en los balseros” . Foi uma estripulia tão grande que os enfermeiros correram para saber o que se passava. A cama estava quebrada, os móveis , os livros todos no chão, tudo desarrumado e, arfante , a loira saiu da sala ajeitando a roupa e gritando que estava curada.

- Que coisa de louco esse doutor Quevara, Quevara, Quevara, Quevaaara...mamma mia.

Quevara, caído num canto, desacordado, é reanimado pelos enfermeiros.

- Que fizeste na loira , Quevara?

- No,sé. Qué pasó?

- Olha, cubano safado, desembucha logo e nos conta o que passou aqui.

- Mira, yo apliquei un guascázo en la mujer.

- Que negócio é esse de guascázo?

- Es un tratamiento que yo desenvolví: El Guascázo Paredón.

- Essa história não está bem contada. Amanhã vamos falar com o diretor. Até lá vá procurando desculpas, cubano.

Os enfermeiros arrumaram tudo e foram embora.

No outro dia não foi chamado, mas soube que a loira havia dado alta, após recuperação surpreendente. Um verdadeiro milagre, diziam.

Semanas depois é chamado para receber visita.

- Visita, para mi?

- Vamos lá, cubano, a loira tá lá com pai dela e quer falar contigo.

De fato, na sala de visitas a loira e um senhor bem vestido o aguardavam.

- Meu pai, este é o médico que me curou.

- Pois molto bene, disse o pai meio italianado, e agora tu vai montar o consultório prá ele como disseste?

- Sim, onde ele quiser.

- Doutor, minha filha vai lhe agradecer a cura montando-lhe um consultório.

- Sí, gracias, chica. Entonces le gustó el guascazo?

- Sim, doutor Quevara, que vara.

- Mas ele não é doutor!!! disse o enfermeiro.

- Allora fez milagre , mamma mia....

- Si, yo soy formado en mi tierra en psiquiatria. Lo creo que estoy cierto.

Despediram-se com a promessa de voltarem para a sessão de verificação do tratamento no dia seguinte.

Seu Pederneira, mineiro de Santos Dumont e diretor do manicômio, interessou-se pelo caso e mandou chamar o cubano imediatamente.

E lá foi ele.

- Já sei da tua história , mas me conte em detalhes pois também queremos aprender algo. Afinal ficastes três meses de graça e tens de retribuir, não achas?

- Si, como yo tiengo hablado com los amigos, yo vino en busca de terapias alternativas a mi especialidad.

- Sim e que mais..

- Llego en mis manos unos articulos del Analista de Bagé y manifesté el deseo de conocerlo.

- Pelo que ouço já estás falando um bom portunhol, não é?

- Si, me encanta falar com los brasileños, es un povo mui amigo.

- Mas porque quisestes sair de Cuba desta maneira, melhor dizendo, fugistes de balsa? Me explique isto, pois lá existe um serviço médico muito bom, pelo menos é o que se diz.

- Si, yo soy un balsero. Y lo qué se pasó es que yo apliqué mi teoria del Guascazo Paredón en una chica do partido. Mira, yo no sabia que ella estaba saliendo con un figurón....

- E daí, o que aconteceu?

- Pues, fué tratado como traidor de la revolucion y el paredón me esperaba.

- O paredão, cubano? não tinham acabado com isso?

- Si, pero, para los traidores de la revolucion no.

- Mas não traístes a revolução e sim aplicaste um método que desenvolveste. Tá certo que foi em alvo errado. Mas tudo para o bem da Ciência . E ela estava louca?

- Si, no, no lo creo. Pero todos que son contra las ideas del comandante só pueden ser locos e entonces........

- Mas não me respondeste se a moça estava com distúrbio mental, não é?

- Creo que no. Solamente intentava conocer mi descubierta científica.

- Se ela não estava doente porque aplicaste o método nela?

- Si, yo tive que introducirlo. La ciencia acima de todo, no es?

- E então fostes considerado traidor por isso?

- Si y tuve que huir .

- Mas, Quevara, em quantos doentes aplicaste o teu método com sucesso?

- Lo creo que muchas chicas he curado.

- Quevara, sabes, ás vezes tenho distúrbios mentais que me preocupam. Agora mesmo, estou muito perturbado..Que tratamento me aconselhas?

De repente, Quevara sai em disparada, na direção da porta de saída, deixando Seu Pederneira falando sozinho.

- Oh, Cicciolina, Cicciolina, me espere, espere, vou con ustedes para Bento Gonzalves, me esperem, me esperem......Adiós, adiós, señor...Hasta luego, hasta luego, nunca más....me esperem...