Talvez a inflexão

Jovem Pérsio andava, pelo amanhecer, imerso na neblina com cheiro de luto, as lâmpadas que existiam em seu trajeto perdiam sua força vital a cada minuto. Era como se sentissem dores e gritassem por ajuda desconhecida, até parecem com as cachoeiras que choram o ano inteiro ou em certo períodos. Por qual motivo choram tanto? De onde vem tanto choro e tristeza? Ou seria felicidade?

Ele caminhava e via todas aquelas casas antigas embebidas de esperança e dor. Telhas velhas e paredes manchadas e desbotadas. Aqueles que viam Pérsio por suas janelas achavam estranho um homem de terno e cartola escura por aquele lugar. Aqueles que viam o rosto dele percebiam um mistério sinistro com uma dor no olhar e medo nos passos. Talvez, um andarilho perdido em seus própios pés.

Quiça, alguns estavam certos sobre Pérsio. Mas, ele estava lá por um acaso de semanas. Ele pretendia matar sua força vital de vez. Andou até um hotel daquela cidade, hospedou-se e foi para um quarto com sua arma na mala e sem nada a perder. Pérsio olhou para rua atráves da janela naquele recinto. Tirou tudo que tinha em sua mala e se sentou na cama e colocou a ponta do revólver em seu queixo. Foi direto e objetivo. Mas, surgiu um ser com corpo de mulher, cheia de colares e anéis e com cabelo cor de fogo; antes mesmo que a bala atingisse seu tecido, ela tinha parado aquilo que os homens conhecem por tempo. Pérsio olhou para ela e falou:

- Quem é você?

- Sou a deusa da inflexão

- Por qual motivo você atrapalhou meu ato?

- Sei que no obscuro do seu subconsciente você nunca quis isso. Você só é um desgraçado que perdeu o controle de seu narciso. A morte não é uma opção. Você pensa que está no fundo do poço, mas não está. Está quase lá. Imerso em prostituição, bebidas, apostas e drogas. Você se perdeu e tentou preencher seu vazio com toda essa trivialidade. Age como um homem cego sendo guiado por um peixe no óleo. Parece um morto-vivo. Perdeu tudo: desde sua mulher até sua conta bancária. Sua mente uma vastidão de vozes e memórias trocadas por vícios. Sou a deusa da inflexão e vim te dizer que nunca é tarde para sair de onde você está. Faça a parábola de sua vida tomar uma nova concavidade. Não é todo mundo que possui duas vidas no jogo da vida e estou te dando ela. Pense bem: não há mais vidas.

Pérsio acorda na cama do hotel. Sua arma estaba em seu bolso. Questionava se tudo aquilo fora um sonho. Nunca saberemos naquele comum dia ou dia comum. Mas, no fim Pérsio pulou da janela daquele andar...

Salomão Araújo
Enviado por Salomão Araújo em 24/05/2021
Código do texto: T7262991
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