A Dona dos Pombos.

Houve um tempo em que ela até lutou contra os pombos, os ratos e os cães latidores e comedores de tudo. Um, o Tigrão, morreu de forma trágica jogando as tripas pra fora depois de supostamente engolir uma pomba envenenada. Secou e agonizou no fundo do quintal e teve seu cadáver lançado do outro lado do terreno baldio, de onde vinham os ratos.

Os pombos eram os que mais a infernizava por conta de seus arrulhares e fábrica de merdas e outras pestes. Queria sumir com todos, os exterminar do planeta, mas sabia que isso era impossível. Sua procriação era em escala industrial. Eles viviam para comer, trepar é cagar na cabeça das pessoas. Mais terríveis que políticos brasileiros, eram o caos em sua vida, a perseguindo por onde quer que fosse e sempre lançando seus jatos de bosta a todo momento, tanto que se via condenada a andar com um guarda chuva. Aos 36 anos de idade e perseguições resolveu mudar sua vida para sempre. Não tendo como vence-los, uniu-se a eles. A todos. Fez amizades profundas com ratos, sapos, cães, gatos, carrapatos e principalmente os malditos pombos, tornando-se aliada de toda a escória de animais peçonhentos e sanguinolentos, deixando de ser uma vítima coadjuvante do dia a dia para se tornar a famigerada ou santificada "A Dama dos Pombos de Alabama", uma espécie de justiceira do cotidiano cão. A Dama dos Pombos ou dona dos pombos, como a chamavam as crianças, passou a agir em meados de 1996 no condado local eliminando as injustiças sociais e pessoais com a fundamental ajuda dos animais e insetos. Acabou com o tráfico local com um bombardeio de excrementos voadores advindos de todos os lados, dando um fim nos traficantes e usuários da região. Com um ataque de ratos devorou a prefeitura local em menos de três horas, inclusive com o prefeito corrupto e seus secretários lá dentro. Foi um horror, disseram os noticiários, mas necessário. Os cães tomaram conta dos terrenos e construíram suas moradas, deixando de serem famintos cães de rua para se tornarem os donos de suas vidas. Por onde andava, a dona dos pombos era acompanhada por seus fiéis animais. Ninguém se aproximava. Não era considerada má nem boa, mas sim uma representação da justiça voraz de uma terra sem lei.

Cinco anos depois de sua junção aos animais, partiu para o combate às injustiças do mundo. Foi até o Oriente médio e acabou com as guerras santas, rumou para a África e erradicou a fome e a sede daquele povo, partiu para a Ásia, a Europa e Américas destruindo as mazelas como se fulmina insetos com inseticidas. Obrigou os líderes a manterem condutas éticas e implantou a paz nas guerras. Foi a líder em várias revoluções do bem ao demonstrar que todo animal, por mais asqueroso que seja, é um ser vivo e merece respeito, que é possível levar uma vida harmoniosa com morcegos, gambás e até às fedorentas ratazanas de bueiros, e deixou o legado de que aqui neste planeta estamos apenas de passagem e que ninguém é melhor, maior ou dono de nada.

O Mundo respirou fundo e abriu um enorme sorriso.

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 10/06/2021
Reeditado em 10/06/2021
Código do texto: T7275418
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