Crônicas de Xisnópólis - Parte I

Sem pílulas

Mais alguma coisa estranha estava ocorrendo naquela cidadezinha do interior. Tal lugar ainda não fora de grande forma afetado pelos males do desenvolvimento, mas há um que sempre existe: humanos, obviamente.

O prefeito da área resolveu criar um projeto - e que projeto! – que animou bastante os velhinhos da área. Remédios contra a disfunção erétil são entregues todo mês para aqueles que procuram, porém estes têm de ter mais de sessenta anos. Claro que devem ter prescrição médica, aliás, tudo tem que ser feito certinho e dentro das normas morais! Quatro comprimidos são dados para aqueles que cumprirem as exigências.

- A procura é gigantesca! Tem um senhor aqui com mais de 80 anos que todo dia tenta pegar mais! – fala um dos atendentes do grande projeto.

Novamente mais um dia, e as nuvens, como o natural, galopavam sobre aquele pequeno lugar, e como várias vezes acontecia desde a abertura de tal preocupação do governo para com o povo, viam a popularidade de tal projeto.

Aquele dia, porém, começou diferente. O velhinho antes mencionado, que sempre estava entre os primeiros da fila, não apareceu.

Quase no fim da entrega apareceu uma ruiva. Ela era daquelas que fariam qualquer homem babar. Corpo escultural e bem definido. O atendente, sempre educado, perguntou o que ela desejava, visto que aquilo era um tanto incomum.

- Queria saber se vocês têm pílulas para melhor o desempenho ético das pessoas... – murmura de forma venenosa. – Com a saúde e a educação tão precárias, o governo gasta dinheiro com projetos assim...

- Ah! Relaxa e goza... – brincou o homem, repetindo o “chavão” dito por uma política.

A mulher olhou para ele ainda mais aborrecida, e sem esperar um pedido de desculpas dele, passou os documentos necessários para pegar os remédios contra a disfunção erétil. Enquanto o homem checava a validade dos documentos, ela murmurou para si, embora audível o suficiente para ele ouvir: “Porcaria de marido velho! Nem para vir buscar remédios para ele mesmo serve mais!”.

Olhou meio intrigado para ela, imaginando a quem ela se referia ali, e ainda os motivos que a levaram a ficar com o homem, mas afastou todos os pensamentos rapidamente, logo que voltou ao trabalho.

Soube, algum tempo depois, que ela era casada com o senhor que era tão assíduo para pegar os remédios. Também ficou sabendo que ele morrera, e ela herdara uma grande propriedade.

Pelo visto não são apenas os políticos que precisariam de pílulas para efeito moral, e sim os cidadão também, que reclamam tanto dos políticos e esquecem dos sórdidos detalhes de suas próprias vidas, como os jovens, em sua hábil consulta coletiva na hora das provas.

O que está velho é a ética, e infelizmente, para rejuvenescer isto não há pílula não...