Preciso viver.

Acordo de novo de madrugada por causa do mesmo sonho. Estou andando pela rua, quando de repente alguém me pega pelo braço e me leva embora, então eu sumo. Esse sonho vem me atormentando a meses. É como se ele pressentisse algo e me mandasse fazer algo a respeito. Ou me entregar, ou lutar contra. Levanto e começo a andar pela casa, o chão é frio e me faz ficar mais acordada. A cada dois minutos, eu paro e respiro. Paro e respiro. É meu jeito de sentir a mim mesma. Saber que ainda estou viva. Que preciso ficar. Tenho medo do sonho, não posso me render a ele. Então, eu paro e respiro. Como se fosse a única coisa que eu soubesse fazer. Meus pés gelam ainda mais. Resolvo me deitar no chão. Quero sentir, preciso. Enquanto me deito, de súbito, escuto alguém chamar na janela. Penso que não era nada, mas, por fim, escuto de novo. Então me levanto e vou devagar para olhar. Era eu. Como isso é possível? Só posso estar sonhando, imagino, por fim. Dou-me três beliscões para saber a verdade. Mas eu estava ali, de frente para mim mesma. Bato na janela, começo a gritar, mas a outra versão de mim nem pisca. Então, abro-a. Ela entra devagar e nos olhamos. Ela é igualzinha a mim, como isso é possível? Repito; não pode ser eu, não pode ser eu.

Mas era.

Nós estamos frente a frente, quando ela fala:"Vim te buscar"

"A mim? Não pode ser!" Digo. Mas ela só continua a me olhar. "Vim te buscar" repete.

Então pergunto:"Mas, por quê?"

"Você não pertence mais a este lugar. Você está vazia. Venha comigo"

"Não posso, não posso. Estou lutando contra"

"O sonho não te disse nada?" Ela fala, por fim. "Estávamos te preparando. Pensamos que tu eras capaz de entender"

"Não posso, luto contra isso a meses. Contra o medo de perder a mim mesma. Ainda estou viva."

"Não você não está, você está vazia. Não tem nada em você que seja passível de uso. Você é pó."

"Eu sou vida. Mesmo que de longe. Eu sou. Preciso continuar a viver. Você não vai me impedir. Você não vai."

Então a pessoa me pega pelo pescoço, fazendo o possível para me levar para o mais longe que conseguisse, então para. Senta-se no chão e me empurra contra ele. Eu fujo. Com toda força que tinha, me levanto e fujo. Abrigo-me no meu quarto. A pessoa vem atrás dela, mas ela consegue ser mais rápida. Tranco a porta. Começo a gritar. "Não quero ir embora, não quero ir embora" Então acordo.

Levanto-me da cama e corro para a sala.

-Mãe! Eu te amo!- eu digo

-Que susto, Maria- e nós nos abraçamos. Nunca me senti tão bem pelo simples fato de estar viva.

Debora B Ribeiro
Enviado por Debora B Ribeiro em 04/09/2021
Código do texto: T7335236
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