Passagem pelo Lago

Numa certa manhã de setembro, um rico garoto passeava a beira de um lago molhando seus pés na água gelada, quando percebeu que sobre ela flutuava um barquinho de papel. Observou por alguns instantes o seu trajeto e resolveu apanhá-lo. Escorreu toda a água que havia dentro dele e quando se agachou para devolvê-lo ao lago, percebeu que nele havia algo escrito. Embora borrado, conseguiu ler a frase que dizia: “Preciso de alguém. Se você desejar me ajudar, olhe para a margem alta do lago e verá uma pequena casinha de palha onde moro com meu avô de oitenta e dois anos. Venha até onde estou trazendo de volta o meu barquinho.” O rico garoto penalizado foi ao encontro do pobre menino que fazia os barquinhos. Para sua surpresa, ele estava sentado na beira do lago fabricando barquinhos com os pés. Ele não tinha as mãos, fruto de uma má formação intra-uterina.

- Bom dia, li seu bilhete no barquinho. Porque fazê-los de papel que são levados pela correnteza e se destroem com a primeira ventania? – perguntou o garoto rico.

- É o único material que consigo catando na beira do lago, após os finais de semana que os turistas jogam dentro dele. - respondeu o menino pobre que fabricava os barquinhos.

O garoto rico sensibilizado com aquela situação se prontificou a ajudar o menino pobre a fabricar novos barcos e num sábado levou-lhe madeira, prego, cola, papelão, plásticos coloridos, serrote e martelo. Após entregar-lhe tudo lhe perguntou:

- Como você vai conseguir usar esse material sem ter mãos? Olhando para o horizonte o menino lhe respondeu:

- Amigo, quando Deus nos tira os dentes alarga a goela... Eu uso os meus pés como se fossem também as mãos. Faltava-me um amigo. Deus lhe trouxe até aqui.

Os jovens trocaram um abraço e montaram uma lojinha de artesanato na margem alta do lago e puseram o nome de “Pés teus, sonhos nossos”

Elza Gomes
Enviado por Elza Gomes em 12/11/2007
Reeditado em 13/11/2007
Código do texto: T734726