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Se uma sombra resolve tomar conta das decisões então seguirei rumo ao infinito pela tua, numa rua repleta dos sonhos açucarados que sempre conseguimos decifrar quando tentam afastar-nos.

A sombra não tem de ser um mero factor de medo, apenas porque é o oposto negro daquilo que nos ilumina.
Elimine-se esse pressuposto de fealdade e fica a realidade que nos interessar. Nem sequer porque somos feitos de delito inconsequente, mas apenas por darmos uso ao cérebro para lá da formatação imposta.

Segui-te pela primeira vez com o sorriso estampado na alma, algo que ambos sentíamos, mesmo na inexpressiva semente dos músculos faciais. Mas nem sempre o que é parece. Fomos andando em silêncio pelas ruas, pelas rugas inertes que um dia tomariam conta da nossa rotina instalada num vão de formalidade essencial para a vida toda. O olhar em silêncio tomava proporções gigantescas de diálogo entre átomos devidamente encaixados a dois. O maior medo era quando o silêncio se quebrasse e o vento levantasse esse suposto amor para parte incerta.

Foi como se estivesse no meio dos projectos cumpridos a tua companhia, sem os delírios nocturnos compostos de sonhos em que já adivinhava o que dirias, sem sequer pensar se eu te perguntaria algo mais arrojado. Alcancei então o topo da cereja quando te decidiste a formar palavras nesses lábios delicadamente carnudos, e o amor se tornou realidade na criação humana que a velocidade dos estragos auto-infligidos teimava em relativizar.
Naquele dia de calor moderado, sem qualquer muralha por perto disseste que sim, que o fruto do nosso amor vinha mesmo a caminho.
Manuel Marques
Enviado por Manuel Marques em 22/09/2021
Código do texto: T7348325
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