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Os dias eram estranhos desde a partida da mãe. Os avós discutiam diáriamente como se estivessem acometidos de algum demónio que os enegrecia.

- Avó sabe alguma coisa da mamã?

Haveria de os juntar à mesa para saber da mamã e porque é que ela se esfumara como um fantasma naquela noite fria. Esperei que pudesse descobrir o que se passava.

Estava perturbada com a tensão crescente, e assustei-me com a campainha. A avó foi a correr abrir a porta.

- Hoje já estou melhor graças a Deus!

Depois deu-se um verdadeiro terramoto. Era a mamã que estava à porta.

-  Peço desculpa por ter desaparecido, mas a razão está lá fora e sem ela nunca voltaria.

Corri para a porta e vi-me espelhada, como se estivesse no meio dos feitos ocos apenas para saciar a vontade do vírus que me tinha contaminado a alma. Descobri que a minha irmã gémea estava viva.

- Porquê mamã? - fiquei sem chão para focar o que tinha à minha frente

- A vida mudou radicalmente nessa mesma noite em que vocês nasceram. A tua irmã havia desaparecido, literalmente. Parti rumo ao seu encontro, com a fé de que a traria de volta. A vida é um sonho e nós vivemos dentro dele, por isso lá chegaria. Descobri-a, entre várias camadas de dimensão num programa televisivo onde jovens talentosos  mostravam o que valiam. Era menina feliz, exactamente como tu, que já não queria sair da sua realidade. Mas o sonho em que parti era feito de livre arbitrio e um sorriso mudou a composição da vontade e ela veio comigo.

Olhamos estupefactos uns para os outros, sem saber muito bem em que acreditar, apenas que se havia feito luz nas nossas vidas!
Manuel Marques
Enviado por Manuel Marques em 26/09/2021
Código do texto: T7351007
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