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Ele foi-se embora.

Ela fechava os olhos, adormecendo a vontade de aquilo tudo ser realidade.

Ele falara com ela,  corriam os dois rumo à falésia, num dia de vento intenso, voracidade nos gestos, desilusão nos olhos claros, debaixo de uma tempestade tropical iminente.
Os sinos da Igreja na falésia, junto ao mar, repicavam com a fúria do fim do mundo, prestes a dançar perante os seres cabisbaixos que de lá saiam com um caixão nos ombros de quatro homens soturnos. Ele gritou que já não havia volta a dar. Ela chorou e abraçou-o, ainda com mais força. Ele largou-a e foi pelo outro lado da falésia, correndo com toda a velocidade. Ela ainda tentou segui-lo, o vento não deixou. E desapareceu, num adeus amputado de vontade. Afinal todas as promessas de amor eterno, enfermavam da vontade de continuar. Ou era tudo um sonho.

Ela acordou. Ao seu lado, uma almofada com um pedaço de papel em cima.

"Maria,
Fartei-me. Por mais que consigamos olhar aquele tempo todo um para o outro e que São Roque nos tenha protegido da peste, há um incómodo crescente na minha vontade de continuar contigo.
Adeus, João."

Ela foi à janela e pareceu-lhe vê-lo a sorrir e a desaparecer por entre o nevoeiro. Viveria dentro de um sonho?
Manuel Marques
Enviado por Manuel Marques em 03/10/2021
Código do texto: T7355799
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