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Os braços no alto. As formas em combustão. Voltava em chamas a um passado distante. Lá ao fundo via as ondas, baixas demais para engolir os sonhos. A noite caía profunda sobre os ombros. A necessidade de relaxar depois do trabalho, confundia-se com o infinito que queria para o concreto presente. Talvez o concreto fosse secar os seus sonhos, descobertos muitos anos mais tarde como sublime arte de um sobrevivente. Apenas mergulhar naquele pedaço de mar, absolutamente negro. Enquanto os braços no alto se misturavam, as pernas reviravam-se na necessidade de um tempo que nunca acabasse. Apenas lábios sedentos de amor, de se moverem nas fronteiras da insanidade, algo disforme que se transformaria num pesadelo real.

Um arqueiro desferiu vários golpes mortais. O medo tomaria de novo conta da felicidade adjacente ao frio, às noites que teimavam em descer sobre as almas antes tranquilas. Ali não sobreviveria qualquer Barrabás, eivado da justiça maligna, dos motivos de justiça ensanguentada, frequentemente confundidos com liderança, rumo à liberdade. O sangue nunca foi feito para jorrar, como forma de justiça, de união dos povos. Alguns braços não se voltaram a levantar. O arqueiro foi aniquilado por um qualquer Barrabás. A justiça de matar como forma de castigar a morte, haveria de morrer. E os braços soltos, as pernas em combustão, tudo se transformaria em pó no dia em que deixasse de existir aquela brisa marítima em que sempre apetecia mergulhar. Para sempre.
Manuel Marques
Enviado por Manuel Marques em 15/10/2021
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