Retorno às origens

Para Joseph o trabalho como reitor no Campus Universitário era desafiador, assim como foi toda a sua vida. Nele ele passava a maior parte do seu tempo, já que continuava morando sozinho desde o retorno à Final Feliz. Os planos eram muitos e ele, incansável como seus ancestrais, colocava muito amor naquele lugar.

Sua mãe faleceu antes mesmo do seu retorno, deixando a velha casa órfã do seu toque feminino, que tão bem sabia cuidar de tudo e envolver-se com as pequenas nuances que permeavam a sua amada família. Seus irmãos continuaram na lida, exceto dois que conseguiram partir para a capital para estudarem. Os que restaram, pelo menos, aproveitaram o exemplo de Joseph e motivaram seus filhos a buscarem uma graduação, mesmo que carregada de sacrifícios, pois a maioria continuava na lavoura. O exemplo do tio foi fundamental para a família como um todo. Os primos seguiram o mesmo caminho.

A vida seguia o seu curso e Final Feliz, com os anos, começou a entrar para o cenário de uma das melhores cidades do interior do país para se viver.

Joseph, como reitor, costumava engajar-se ativamente em atividades da cidade e, em certa ocasião, sugeriu à Associação Comercial e Industrial que buscasse meios para incentivar empresas grandes a instalarem os seus parques industriais na cidade, mediante algum benefício fiscal. A sugestão foi estudada e em pouco tempo aceita e, em menos de dois anos, três grandes empresas multinacionais instalaram as suas fábricas em Final Feliz, gerando um número sem fim de empregos e, consequentemente, melhorando a condição de vida da comunidade.

Satisfeito com os resultados que vinha alcançando desde a sua mudança, afora o trabalho levava uma vida tranquila, no meio de muita leitura, especialmente nas noites quentes. Nessas ocasiões ele sentava-se na varanda da sua enorme casa e relembrava o tanto de esforço que os imigrantes alemães demandaram para deixarem tanta riqueza em trabalho, capricho e obstinação. As noites caiam e ele, com a disciplina de sempre, planejava novos rumos para a cidade e para o Campus. Herdara de seus ancestrais a obstinação. Era um obstinado em preservar a história e dela extrair o melhor para que as novas gerações se beneficiassem e não perdessem a sua essência. Conseguia trabalhar os avanços tecnológicos de forma diretamente proporcional ao aprendizado do passado. A sua graduação em História lhe rendera bons frutos nesse sentido. Mas sentia-se só. A família, mesmo sempre próxima, não entrava em sintonia com os seus planos. Viviam em mundos diferentes, exceto um dos seus sobrinhos que o visitava com frequência e o neto do Professor Anísio, o grande mestre que o ajudou a tomar a decisão para o retorno à Final Feliz. O resto era trabalho e solidão.

Seu sobrinho era Rudolph, já formado em Direito e casado com Belisa, uma linda mulher que lhe dera uma bela filha, de nome Verena, em homenagem à vó. Rudolph trabalhava de forma autônoma e, quando da instalação de uma das fábricas em Final Feliz, recebeu uma bela oferta de trabalho para atuar como Consultor Jurídico, não precisando deixar o seu escritório. Em pouco tempo imprimiu a sua marca, através de um trabalho sério e comprometido.

Certa noite, em uma visita ao tio, convidou-o para conhecer a fábrica. Tinha muito orgulho de pertencer à uma organização tão próspera. Joseph aceitou e, de pronto, agendaram uma tarde na próxima semana.

Chegaram juntos ao enorme portão, sendo identificados pelo guarda que, olhando para Joseph, apresentou-se como aluno do Curso de Administração no Campus. Joseph respirou fundo e certamente deve ter pensado que tudo estava valendo a pena. Logo na entrada uma simpática recepcionista sinalizava a Sala do Diretor Geral para os dois entrarem. A conversa foi animada, cheia de propósitos e extremamente gratificante para ambas as partes. Ao saírem, Rudolph sugeriu uma rápida visita à Ingrid, a Gerente de Recursos Humanos. Tinha planos para um futuro convênio entre a empresa e a Universidade.

Ingrid era loira, olhos azuis e boca carnuda. Reconhecida pela competência e seriedade, não conseguiu esconder a admiração ao conhecer Joseph. Da mesma forma, o reitor deixou-se cair por seus encantos, especialmente por sua mão aveludada quando do cumprimento. Em breve conversa acertaram um novo horário para conversarem, não sem antes fixarem seus olhos um no outro em sinal de afirmação. Rudolph, o intermediário da conversa, mal balbuciou algumas palavras, embora parecesse muito satisfeito com o que vira. Inevitável.

O encontro se deu no próximo sábado, na cantina da Universidade e, de pronto, foi possível entender que muito poderia ser feito em prol dos funcionários, a grande maioria de origem alemã. O primeiro passo se daria com a oferta de um Curso de Línguas na Universidade, iniciando com o alemão.

Para que a parceria se consumasse da melhor forma, muitos outros encontros aconteceram até o mês de novembro daquele ano.

E, no Natal, com toda a família e suas diferenças reunidas na sua casa, Joseph anunciou que, se a família permitisse, ele imprimiria uma bela reforma na velha casa de seus pais para, em data próxima, subir as escadas da entrada com Ingrid, sob os olhos de todos, na direção do reverendo que os abençoaria até que a vida os sinalizasse que seriam felizes.

Exercício para a Oficina "Provocações" - Módulo 05 - Editora Pragmatha