MANUELA E MANUEL
Manuela, jovenzinha, nasceu numa cidadezinha do interior de Fortaleza, Manuel garoto travesso nasceu no sul do Brasil. Ela tem seis meses, ele tem cinco anos.Numa manhã nebulosa e chuvosa aconteceu aquele encontro nada esperado.
-Que som é este vindo do portão, Esperança?
-Não sei Madre, posso verificar?
-O que é? Você consegue ver?
-Nossa! Venha ver Madre, corra...
-Pegue logo o cestinho, ponha para dentro.
O espanto era geral, as moças do internato, sorriam e queriam segurar o bebê enrolado naquele cobertor sujo, rasgado e mal cheiroso.
- O que fazer agora Madre?
-Tem algum bilhete?
-Não, nadinha
-Bem meninas, voltem aos vossos aposentos, enquanto Esperança e eu decidimos o que fazer.
A euforia era tanta que, não se ouvia se quer o pedido da Madre, então foi necessário retirar o bebê daquele lugar.
-Pegue o cestinho e siga me Esperança.
-Sim, Madre, é pra já!
Enquanto investigavam a situação ouviram algo estranho.
-Que lhe parece este barulho, Esperança?
-Deve ser algum ratinho.
-Ratinho?! Quanta besteira, dedetizamos este prédio não faz nenhum mês.
-Rs... rs...rs...abafava o sorriso o travesso.
-Tem alguém aí, saia agora, senão... Senão...
-Senão... O quê Esperança?
-Senão eu vou soltar o Sultão.
-Quem é Sultão?
-Quem é você? Pergunto eu.
-Oi, Esperança. Quem é esta pessoinha aí dentro do cesto?
Assim começa o desastrado encontro entre Manuel e Manuela.
-Como você entrou aqui, menino?
-“Péra aí, péra aí”, moça.
-O que? Você pensa que tem algum direito aqui?
-Tá, bom! Sabe aquela hora que você gritouuuuuuu: “Nossa!! Madre venha ver, corra”.
-Sim...
-Então, eu corri só que para dentro, rs... rs.
-Madre, a senhora ouviu isto?
-Claro que ouvi, o garoto é bem mais esperto do que você.
Esperança muito sem graça se cala, enquanto o garoto travesso se contorcia de tanto rir e o bebê no cestinho, Manuela, acorda em prantos tão alto que o riso de Manuel tornou se sem graça.
-Viu só garoto, acordou o bebê!
Com muita dificuldade a Madre conseguiu, trocar a menininha, acalmar o garoto e, depois de alimentá-los colocou- os para dormir. Em suas orações, Madre pedia a Deus que lhe mandasse a sabedoria para discernir sobre o ocorrido.
O DIA SEGUINTE
Com o raiar do sol, Manuel pula da cama e meio tonto relembra o ocorrido, saindo como um foguete pelo corredor.
-Hein, gente, estou com fomeeeeeeeeeee.
-Calma Manuel! Esmeralda está preparando o café, enquanto nós estamos caminhando para a capela, onde realizaremos as orações da manhã.
- Eu também tenho que ir?
- Claro, vamos.
Segurando a mão de Manuel, a Madre pensava como aquele menino havia chegado até ali e o que fazer com ele se estava à frente de um internato de meninas. Esperança chega à capela e dão início às orações e de repente:
- Olha madre! Cochichava Esperança apontando para Manuel.
Pela pequena face do menino rolava uma lágrima. O que significaria aquela lágrima. De volta ao refeitório, em silêncio, um choro de bebê enche o lugar.
- Manuela! Exclamou uma das moças do internato.
-Como vocês a chamaram?
- Manuela retrucou Manuel. Se eu sou Manuel ela é Manuela, certo?
Esperança e a Madre riram e num gesto carinhoso, concordaram com a escolha do nome, já que no cestinho não havia nenhum bilhete para identificar a menininha.
- Esperança, fique com as crianças e jovens enquanto vou ligar para o nosso Mantenedor, o senhor Eugênio para resolvermos este probleminha.
A Madre saiu e Manuel começou com as indagações:
_ Esperança, a Madre vai me mandar embora?
- Não sei meu amor, vamos esperar.
- Sabe esperança, minha mãe não sabe o que aconteceu comigo, é que lá em casa passamos muita fome...
-Quer dizer que você fugiu?
- Não, Esperança, eu não agüentava ver minha mãe chorando e dizendo, o que eu faria para alimentar tantas bocas, então eu quis ajudá-la e vim parar aqui.
-A Madre precisa saber disto.
De volta da ligação, Madre fica sabendo da história de Manuel e se comove.
A DECISÃO DO SENHOR EUGÊNIO
O senhor Eugênio, conforme o combinado com a Madre chegou para decidir a situação, afinal um garoto não pode ficar num internato de meninas.
Todos queriam opinar; alunas, professores, funcionários, porém quem realmente tem poder parar resolver era o Mantenedor.
-Seja bem - vindo senhor Eugênio.
-Obrigada caríssima Madre, mas vamos direto ao assunto que me traz aqui.
Assim, Esperança e a Madre contaram tudo ao senhor Eugênio.
- Venha aqui, Manuel, diga-me o que você acha que devemos fazer?
-Senhor, na verdade eu gostei muito daqui, mas sinto muita falta de minha mãe, meus irmãos...
-Irmãos? Quantos irmãos você tem?
- Tenho 8, 3 meninas e 5 meninos.
- Como você chegou até aqui se veio de tão longe?
-Quando saí de casa, não sabia muito bem para onde ir, então conheci um outro menino que me ensinou como viajar nos caminhões.
- Sei... Continue.
-Assim, eu entrei num caminhão e quando ele parou num posto, fiquei observando a conversa dos motoristas e entrei num caminhão que vinha para São Paulo, como já tinha ouvido falar deste lugar fui vindo, até que cheguei.
- Mas você não chegou exatamente aqui, não é?
- Não, cheguei primeiro num posto, de lá para cá, um anjinho sem asas me trouxe aqui.
-Como? Um anjinho sem asas????
-Ele disse que era um anjinho e eu sei que era mesmo, ele veio me trazendo e disse que minha mãe tinha pedido para ele me acompanhar e me proteger.
- Como é possível isto?
- Ele disse que minha mãe rezava e Deus pediu para ele me ajudar.
Em meio às lágrimas que escorriam pelas faces, o Senhor Eugênio decidiu:
- Vamos entrar em contato com a cidade que Manuel diz ter vindo e, enquanto ele permanece aqui com vocês e quanto a Manuela, até que a reclame ficará sob vossa proteção.
O MISTÉRIO
Os dias transcorriam entre as orações, o cotidiano do lugar e as travessuras de Manuel, que pintou o banheiro com pasta dental, deu vários banhos em Manuela dizendo estar dando água a quem estava com sede, entupiu o vaso sanitário jogando sabonete para ver se fazia espuma etc. Diante deste quadro, algo chamava a atenção da servente que varria a frente do internato.
_ Madre, estou estranhando a presença de uma mulher vigiando o portão.
- Vamos ver quem é?
- Mas ela só aparece pela manhã bem cedinho.
-Tudo bem, amanhã você me chama para ver se conversamos com ela.
Na manhã seguinte partiram as duas para desvendar o mistério.
_ Olha lá, Madre é ela.
A maltrapilha vem vagarosamente se aproximando do portão, quando encontra às senhoras e vendo-as saiu correndo.
- Que pena, ela fugiu.
Passaram se alguns dias até que novamente apareceu aquela grotesca figura e agora mais preparada, a Madre segurou a pelo braço.
- O que você quer por aqui?
Em lágrimas a jovem não conseguia falar, então foi levada para dentro do internato e aos poucos foi relatando sua triste história:
_Eu fiquei grávida e meu pai me pôs na rua, passei a morar nas ruas da cidade e a contar com a providência divina, sem ter onde morar, vivendo de
esmolas e já sem leite para alimentar minha filha, decidi deixá-la aqui em sua porta, cara Madre.
-Manuela! Exclamou Esperança espreitando pela porta.
-Quem?Questiona a jovem mãe.
A Madre esclareceu tudo para a jovem Madalena, que ouviu o relato e emocionada disse ser um belo nome dado à menina que ainda não fora registrada. Madalena foi encaminhada ao banho e com trajes limpos parecia outra pessoa.
-Madalena, aqui está sua filhinha.
Muitas lágrimas cercavam o momento mágico do reencontro de mãe e filha. O mistério estava desvendado.
FINAL
Com tantos acontecimentos movimentando aquele modesto e tranqüilo internato, todos ansiavam por um desfecho favorável para as crianças agora tão amadas por todos do lugar.
-Esperança, peça para a cozinheira preparar, aquele bolo preferido do Senhor Eugênio, pois hoje ele vem trazendo notícias sobre a família do Manuel.
- Deixe comigo, Madre, pedirei ainda aquele bom cafezinho.
Todo internato estava radiante, já haviam rezado para que tudo terminasse bem, fizeram cartazes otimistas, perfumaram os quartos, corredores e salas, flores adornavam o espaço, com singelo bom gosto.
_Madre, Madre! Gritou Manuel para avisar da chegada do Senhor Eugênio.
-Como vão todos, parece-me muito bem, não é Madre?
-Sim, Senhor Eugênio, estamos ansiosos para saber notícias da família de Manuel.
-Entrei em contato com muitas prefeituras, cartório, associações e depois do árduo trabalho e mobilização de muita gente, encontramos a família de Manuel e confirmamos a história que ele nos relatou, então, sensibilizados com a situação da família, a comunidade local e prefeitura irão ajudar a família, começando com um trabalho para os pais, as crianças ficarão numa creche e escolas, assim, com a ajuda de Deus tudo ficará bem.
Manuel voltou para sua casa e Manuela e Madalena foram adotadas pelo internato, onde a mãe ajudará nos afazeres e voltará a estudar, assim poderão viver em segurança. Foram dias duros, porém todos aprenderam que com fé, amor, oração e ação todos vencem.