PALAVRAS SOLTAS VI

Faço parte de um grupo que se dispõe a escrever um microconto por dia, baseado em uma palavra proposta pelo administrador. Reúno aqui alguns para que não se percam:

ANGU:

Havia vivido o suficiente para saber que aquele súbito bom humor e alegria escondiam algo. Em resumo, naquele angu tinha caroço. Mas seus anos também lhe ensinaram a não fazer perguntas que não queria saber a resposta...

REBANHO:

Enquanto viajava em uma rede social subitamente lembrou de um dito de seu falecido avô:

- Nada é de graça! O cão recebe por sua fidelidade nosso amor, o gado no rebanho paga com sua carne o cuidado que lhe damos. Se te derem algo sem cobrar sempre se pergunte se não é você que está sendo vendido.

PARAÍSO

Você veio com um vestido branco rendado com um decote generoso. Muito bem maquiada. Nunca soube se produzir, deve ter pedido ajuda. O quê eu sei que te custa um bocado. Conversamos amenidades por quase uma hora, a eletricidade no ar deveria ser sentida a kilometros. Não aguento mais e te beijo. O Paraíso!! O tempo simplesmente para e só existe nós e esta felicidade. A eternidade acaba e eu me sento novamente. Seu rosto resplandece. Ainda extasiado, sei que adentrei ao inferno mais uma vez...

REPÚBLICA:

Montou em sua mente um romance perfeito. A República de Platão da paixão! Mas as harpias da culpa e do remorso trouxeram em revoada as memórias de todos os seus relacionamentos. Resignado, voltou a montagem da aristotélica Política do amor do dia a dia.

TERROR:

O romance deles começou despretensioso, até singelo. Uma escapada da faculdade para ir ao cinema. Estrada para Perdição, o filme. Hoje o terror lhe toma quando percebe que o nome da película era um aviso e profecia.

ESCRAVO:

🎼 Já conheço os passos dessa estrada

Sei que não vai dar em nada

Seu segredo eu sei de cor...🎶

Ouvia Retrato em Branco e Preto sem parar enquanto destruía a parede que á anos a esposa pedia que derrubasse.

"Cansa o cavalo que o inimigo desmonta". Dizia sempre seu avô ateu:"Ah meu velhinho, tarde demais"

A cada marretada sentia mais a força daquela obsessão. Era já escravo de uma nova paixão impossível.

DINÂMICA DO DIA 20/11/21; CONTO INSPIRADO PELO POEMA "MENTIROSO", DE ANGELA CRISTINA:

O filho odiava que ele o buscasse na saída da escola. Vinha sempre a pé e com o cachorro. Era um tal de subir e descer morro sem fim.

Também não entendia porque, no ponto em que se via toda a cidade ao entardecer, ele sempre parava. Às vezes até escorriam duas ou três lágrimas dos seus olhos.

Só muitos anos depois entendeu que, naquele minuto, a mente e o coração de seu pai paravam de brigar. E ele era feliz...

#microcontofatimaflorentino

Aristoteles da Silva
Enviado por Aristoteles da Silva em 25/11/2021
Código do texto: T7393842
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