Casos de mercado ensolarado

 

 

 

Estavam na enfermaria José Maria e sua acompanhante Maria José. José não parava de conversar e Maria fazia caras. Muito certo, José não era. Maria vez ou outra falava algo que devido a máscara ou distância em não entendia bem, suas palavras morriam em interrogações. Fizemos amizade. Ela tinha orgulho do seu trabalho e José por sua vez só conversou algo que compreendi por completo quando falou de novelas que eu tinha assistido. Ele era vendedor ambulante e das laranjas e outras coisas que vendia ou dos fiados que não recebia, das mulheres que cruzaram seu caminho, tinha sempre algo a contar. Das que ao invés de comprar lhe pedia emprestado para nunca pagar. Vez ou outra ele ligava para uma e contava da internação. Maria dava a entender que eram os afetos do interesse, que socorrer José, só os da família e ela era irmã, como eu. As histórias de José pareciam um mercado de sentimentos. Lhe passavam a perna, mas ele se compadecia e até reclamava da pouca roupa de cliente a vista. Havia tanta troca de mercadorias e quantias poucas citadas e prosas com mesmos nomes que uma delas virou compromisso certo de casa e contas. José tinha a simplicidade de um mercado ensolarado. Já outro paciente, expert em histórias surreais, diante a humildade do outro, guardou para si suas favoritas de que pertencia a realeza e vivia nos jardins britânicos. Eu cutucaria Maria ou rasparia a garganta. Vivem tão emergidos em suas fantasias que eu devia mesmo ser escritora de romances ou então ele, o irmão letrado; mas ao contrário de José, ele não vê romance no ar que respira. Em seu mercado, sentimentos não ganham vida. Suas aspirações moram em outras epifanias. Quanto a mim, foi dito que é para eu caçar o rumo de casa. Que minha missão tinha sido cumprida.

 

MLP

 

Marília L Paixão
Enviado por Marília L Paixão em 30/11/2021
Código do texto: T7397016
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