Renascer

Era uma mulher que a vida tornou triste. Aproximava-se da idade imortalizada por Balzac e teria de pensar melhor antes de fazer suas escolhas. Acreditava não ter mais tanto tempo, talvez não pudesse consertar erros ou desvios, devia uma satisfação à sociedade, à si mesma.

Seus amores não existiam: tantas grosserias, escolhas erradas, homens comprometidos, neuróticos, inseguros... E não se sentia amada. O sexo, sempre um problema. Uma mulher agindo como menina insegura? Só pode mesmo estar fazendo tipo, dando uma de difícil. Não existem sentimentos, o sexo é físico. Era fria, talvez rude. E tudo ia bem, sucesso profissional, amigos verdadeiros... Nem sentia falta de amar... ou talvez não quisesse sentir.

No trabalho, fora transferida. Estava na hora de desfrutar de outros ares, conhecer outras pessoas. A sonhada promoção. Tanta luta recompensada. Uma sensação indescritível de realização pessoal. Estava diferente, encontrou um sorriso. Um menino, talvez um homem. Mas sorria como menino. O que o tornava tão especial. Algo mudou... aquele sorriso até parecia verdadeiro e... ela viu uma aliança...

Era carinhoso, atencioso, verdadeiro. Possuía sentimentos, sonhos, bom humor e... uma aliança...

Um dia a aliança se foi... e o sorriso continuou. Não queria acreditar em seus pensamentos. Talvez estivesse cansada. Era uma mulher e há muito não queria saber de sentimentos, porém começava a sentir.

Uma noite. Um encontro. Casual. Numa multidão. Ou eram apenas os dois? Ela não sabia. Estava insegura? Que sentimento era aquele? Teria medo? Sim. Estava insegura. Estava com medo. Não sabia ao certo medo de que. Talvez daquele sorriso.

Ele chegou devagar. Abraçou. Ela queria um beijo. Ele não deu. Misterioso. Parece que cresceu. Que idéia! Estava muito sensual. Seu corpo suado a fazia tremer. Mas ele não a beijou.

E realmente ficaram sós. E o beijo veio, sôfrego, desesperado. E ela teve medo. Medo de si, do desconhecido... e ele se foi.