Apenas mais um

Era julho e o ano nem me recordo direito. Sei que era julho por causa do frio que fazia e dos dias cinzentos também. E como se não bastasse, eu estava sozinha. Sozinha, não solitária.

Se soubesse o que acontece nestes casos, eu diria que estou vivendo uma crise de abstinência. Cheguei numa situação completamente desconfortável, na qual tenho que seguir um ciclo que talvez passe a ser bastante tortuoso ou fórmula trocada. E que não me deixa em paz.

O mais inesperado foi um papel que encontrei dentro de um livro que abri, casualmente, para matar o tempo. Aconteceu em um capítulo. Capítulo 65. "Apenas uma contribuição". Parei um instante para ler. Fiquei chocada com o que li. Pareceu-

me que as palavras, de repente, voltaram a ter sentido, depois de tanto tempo.

Eu sou isto. Isso e quase nada mais. Eu sou mais do que miserável.

Rasguei o papel. Fechei o livro. As palavras me incomodavam. "Contribuição". Contribuir. Com. Eu não tinha nada que contribuir. E estava sozinha. Solitária. Não sei como ninguém me flagrou nos últimos dias, enquanto eu esperava, longe daqui. Eu nem sequer sei em que momento eu desencanei. Ou canalizei. Ou contribuí.

Eu não consegui. Foi mais forte que eu. Devolvi o livro para a estante. Abri as cortinas e vi que um filete de sol começava a aparecer. Peguei um casaco, uma sombrinha por precaução. Ganhei a rua num dia cinzento que ameaçava ter sol ou chover mais. Minha consciência estava tranquila: realmente, não tenho nada mais a oferecer que eu mesma.

E foi exatamente isso que fui fazer.