Roubadores de peixes

Pescadores somente. Amadores, pescavam pela diversão. Dois irmãos combinados na profissão e na aparência, juntado a isso a paixão pela pesca com varas e anzóis. Rios e lagoas nas regiões proximas conheciam muito bem. Sabiam onde ir quando a pretensão não passava dos lambaris, tilápias e outros semelhantes ou do mesmo porte. Quando a ambição chegava nos dourados ou corimbatas, partiam para os rios maiores em locais já afamados, o que não lhes garantia nada, as frustrações costumavam se repetir em meio a poucos lampejos de sorte.

Era comum nessas pescarias, a invasão de propriedades particulares, com reações surpreendentes, desde uma acolhida pacífica e convites de permanência, até reações violentas com pipocos de tiros.

Naquela tarde tudo havia sido preparado para uma pesca noturna em uma corredeira no principal rio da região. Corimbatas as certezas os dourados, sonhos.

Quando o sol se pôs eles já se encontravam na margem da corredeira e seus apetrechos todos prontos para o uso. Um pouco afastados do veículo que os conduziu, a iluminação se dava por lampiões a gás e lanternas a pilha, sendo estas insuficientes.

A noite dobrava para a madrugada quando começaram a ouvir rumores. Primeiro o barulho de automóveis e posteriormente vozes humanas. Apagaram os lampiões e fezeram silêncio, que foi interrompido pelos gritos ameacadores: vocês vão pagar, ladrões de peixes. Pipocos de tiros vinham direcionados a eles. Como proteção somente a escuridão da noite e a vegetação das margens, que também eram ameaças, pois fugir como e pra onde em situações assim?

Os tiros chegando perto, cada clarão dos disparos os deixava mais apavorados. Resolveram adentrar na corredeira para ganhar o outro lado do rio, onde acreditavam ficar livre da direção dos disparos. O rio não era tão largo, cruza-lo pulando as pedras não seria tão difícil durante o dia com a claridade, mas na escuridão o desafio era muito grande.

Foram pulando as pedras seguindo seus vultos e baseando nos sons da água correndo entre elas. Conversavam baixo para se manterem próximos. Não pensavam nos outros perigos comuns, como aranhas e serpentes venenosas, não lembravam ou fingiam não saber das grandes sucuris, comumente vistas naquele lugar.

Fugir dos tiros era o que lhes movia cada vez mais para o meio da corredeira. Um revoado de morcegos lambeu-lhes os rostos fazendo com que desquilibrassem e caíssem na água.

Perderam de imediato o contato um com o outro.

No outro dia o assunto que corria na cidade era do desaparecimento dos dois. A polícia e a equipe de resgate foram para o local. O carro em que estavam foi encontrado, mas os irmãos não apareceram vivos em nenhum lugar e seus corpos também não foram achados. A especulação entre os que conhecem o lugar, segue um amplo leque: dizem que podem ter sido engolidos por alguma sucuri, devorados por jacarés que são comuns naquele rio, e até por onças, que de quando em vez, são avistadas naquela região, que abrange uma serra de mata densa.

Roubar peixes era vanglória entre eles e outros pescadores amigos.

JV do Lago
Enviado por JV do Lago em 11/12/2021
Reeditado em 05/03/2023
Código do texto: T7405189
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