O ENCONTRO DE DOIS MUNDOS

O Olimpo: berço dos sonhos poéticos, alvo das prosas filosóficas de alto nível, poder em relevo na mais densa tradução das ilusões improváveis de um mundo limitado. Lá não há fronteiras, lá cada habilidade dispõe de seu guardião, lá cada aspiração é respondida por uma divindade e é lá que habita a mais cobiçada das deusas!

Suas curvas perfeitas confundem a mente transcendente dos imortais, o sabor de seu beijo é único, sua pele morena queima de desejos, seus longos e negros cabelos parecem a noite estrelada a convidar para o mais despudorado dos romances. Ela é a guilhotina da solidão, é a festa do sorriso, é a sedução singela, é o desejo incontrolável - ela é a mais divina das deusas, a perfeição negada às demais, a tradução perfeita da mais linda poesia!

O mundo: reino das imperfeições, rol dos limites que tornam homens e mulheres um caminho infindo em si mesmo. Um lugar de encantos e belezas que se resume no potencial tosco das imaginações humanas. É lá que os defeitos do deuses se humanizam e acham no homem a morada completa. Mas é lá também que habita um dito mortal: homem de letras e elevado pensar, amante de um unico vicio, que se projeta nas curvas sedutoras do perfil feminino. Ele era um mundo no mundo, a contra-mão de sua sociedade, a oposição dos seus, o desafeiçoado e ignorado brilhantismo de sua própria solidão. Ele era seu próprio, triste e incompleto poema!

Movida por seu afã de novas descobertas, ela desceu ao mundo e abdicou por alguns instantes de sua mágica condição divinal. E numa das esquinas dos sonhos virtuais...ele a viu!

Não era uma mulher...não era um ser...não era a simples beleza...nem era o encanto traduzivel...

era o inverbalizável, era a paixão que se desenha no incompreensivel, era o desejo no grau inaudito, era o fogo indolor que não perdoa suas vitimas e cujas labaredas incendeiam todo o ser.

E como não poderia deixar de ser...ele a quis!

Contradizendo as regras do Olimpo, ela estendeu o manto de seu coração para enlaçar seu fascinado amante, quebrando os paradigmas da logica mitologica, desfazendo as regras da ética moral, reescrevendo os tabus que limitam o prazer e se permitindo saborear o lado divino da essência humana. E assim..amaram-se ambos!

Inebriado de paixão, ele se tornara outro homem e seus rumos a ela convergiam. Para não remove-lo de todos os eixos, ela o impôs os fins de semana como palco de seus encontros, para que o excesso não o desfizesse de seus juízos derradeiros.

E assim se deu a odisséia do Olimpo e do Mundo...realidades opostas, dimensões antagônicas, palcos diferentes que serviram para um mesmo espetáculo de paixão e desejo a toda prova.

Como labaredas em relva seca, essa paixão progrediu e alcançou niveis impensados. Gerou os ciumes dos deuses, gerou a perplexidade dos humanos, gerou o medo do amanhã e gerou a masmorra invisivel do hoje.

Mas essa historia se escreve de inicio sem a pretensão do fim....

ela implora por expressões de fé que a tornem plausivel a uma realidade que impõe limites.

Até onde suportará a deusa, as fronteiras de um parceiro humano?

Até quando lhe cederá a exclusividade de seus encantos?

Até quando suportará não o ter na intensidade de seu querer?

Até quando impedirá que sua partícula humana supere sua divina temperança?

E ele?

Até quando mentirá a si mesmo acerca da verdade que o suplanta?

Até quando manterá a tradição da liberdade, quando se quer a ela preso?

Até quando conciliará seus dois universos, se a ambos ela domina?

Até quando negará os ciúmes que tipificam sua natureza humana?

Seja como for e seja o que for, é assim que o mitológico se eterniza. Pois é na ficção do amor que a única essência real desse mundo se evidencia, onde mentiras e verdades servem a um mesmo deus: o coração!

Reinaldo Ribeiro
Enviado por Reinaldo Ribeiro em 19/11/2007
Reeditado em 27/08/2008
Código do texto: T743671
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