Quais os planos da vida?

Depois de um tempo, Tontonino Ribeiro se tornou um leitor da própria vida. Todas as manhãs, bem cedinho, ele vigiava sua rede de arrasto nas águas de Mar Grande, na Baía de Todos os Santos, na Ilha de Itaparica. O canto dos pássaros, o soar do vento e a pintura do sol eram sua companhia enquanto seguia seu dia na leveza do calor da maresia.

Tontonino era um pescador experiente e suas duas netas, Clara e Maria Yuna, nativas da ilha, tinham os olhos da cor do mar. Clara, com seus dezenove anos, já era muito esperta e trabalhava na bilheteria do ponto de travessia do Mercado Modelo, um importante ponto turístico local. Ela adorava o mergulho e os animais marinhos, e sonhava em um dia explorar o mundo subaquático.

Já sua irmã, Yuna, de vinte e dois anos, preferia ser chamada por esse nome. Ela era uma surfista talentosa e participava de diversos circuitos locais, com o objetivo de chegar ao mundial. No entanto, seu namoro com Carlos, um skatista do perímetro urbano da cidade alta, era conturbado devido ao ciúme excessivo dele e seu problema com o álcool, que muitas vezes causava constrangimentos entre os amigos.

Em uma quinta-feira, no dia 24 de agosto de 2017, uma lancha que fazia a travessia próximo à ilha sofreu um acidente, resultando em 18 mortes das 129 pessoas a bordo. Para Carlos, foi um gatilho enorme e uma sensação de desabamento, pois seu pai estava entre as vítimas. Desde então, ele vivia sem sossego, com sua mãe em busca de advogados para investigar o caso. Mas seu romance com Yuna era o que acalmava sua rotina.

Carlos murmurava no ouvido de Yuna: "Você tem toda paciência do mundo comigo, sua vibe é perfeita." E ela respondia com beijos, apesar de chamá-lo de babaca. Mas ambos gostavam muito um do outro, e os beijos e carícias eram intensos, especialmente quando se encontravam no jardim da UFBA, onde Yuna estudava Educação Física. O coração acelerado dos dois, encostados em uma árvore do campus universitário, cedia apenas ao som dos estalos dos beijos e das mordidas suaves nos lábios. O calor aumentava, os corpos se esquentavam e a atração era irresistível, fazendo com que o tempo parecesse não ter importância. Apenas o olhar profundo um do outro, o mergulho no desejo, importava naquele momento.

Os dias passavam, mas a paixão entre Carlos e Yuna só crescia. Eles encontravam refúgio um no outro, em meio às adversidades da vida. Enquanto Yuna buscava sua carreira no surf, Carlos se apoiava nela para superar a perda de seu pai no acidente da lancha. Juntos, eles enfrentavam os desafios da vida, com amor e cumplicidade.

Sidcley Barbalho Junior
Enviado por Sidcley Barbalho Junior em 13/02/2022
Reeditado em 21/04/2023
Código do texto: T7451312
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