JANELA CERRADA, CAMA DESFEITA (BVIW)

 

A hora era de deitar... Segui em direção da janela do quarto que se encontrava  entreaberta e antes de fecha-la , passei a observar as cuecas dele penduradas e esquecidas no varal,   lembrei do seu olhar tristonho na hora da partida... E com essa lembrança me veio à mente versos de Drummond, que bem poderiam ter sido  ditos por ele na despedida... “Agora vou-me, ou me vão? / Ou é vão ir ou não ir / Oh! Se te amei, e quanto, quer dizer / nem tanto assim.”

 Confesso, que de há muito andávamos às turras e o amor já era, razão para o desfecho não me levar às lágrimas nem à tristeza... Foi pro céu que olhei, estrelas cintilavam e senti nuvens desenroladas sobre mim.  Ao meu redor havia paz e uma certa sensação de liberdade, me senti feliz  , deu até vontade de repetir  Zaratustra quando afirmou: “a felicidade me persegue”...   

Permaneci observando as estrelas, pensando em pessoas distantes... E, enquanto pensava, imaginei ouvir uma batida forte de porta de carro, de passos sobre as pedras que nunca me alcançam...

Janela cerrada, cama desfeita e ninguém pra dá boa noite...

 

 

 

                                                

 

 

 

                             

 

                                          

 

 

Zélia Maria Freire
Enviado por Zélia Maria Freire em 29/03/2022
Reeditado em 29/03/2022
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