Encontro marcado
Pois, naquele fim de tarde, no café do Mirante, em plena praia de Tramandaí, reuniram-se nada mais e nada menos do que a Verdade em seu vestido branco e a Mentira em seu traje de colorido indefinido.
A Verdade estava bastante irritada e impaciente.
__Vamos que vamos, tenho mais o que fazer, nem sei por que aceitei este absurdo convite se tenho que estar em toda a parte. Perda de tempo.
__Calma - disse a Mentira - sempre argumentando como se tivesse todo o tempo do mundo.
__Veja bem maninha – começou a falar a Mentira - travando-se então uma batalha de argumentos filosóficos.
A Verdade traçou o próprio perfil como sendo uma das virtudes humanas imprescindíveis, enquanto a Mentira alegava ser necessária em certas ocasiões.
__A Verdade é chata e sem brilho – decretou a Mentira.
__Pelo menos eu consigo atenuar a realidade, posso criar sonhos e ilusões, mesmo que passageiros - argumentou a Mentira.
__Uma mentira não se sustenta – argumentou a Verdade.
E estavam assim, em acirrada discussão, quando ouviram um barulhão na rua e foram conferir. Era um acidente, um carro atingiu um motoqueiro. O cara voou quase dois metros e foi se estatelar na calçada com o sangue borbulhando de um profundo corte na cabeça.
Verdade e Mentira se aproximaram.
__Eu vou morrer? – perguntou o rapaz.
A Mentira ficou calada, mas quando a Verdade ia abrir a boca, a Mentira sorriu um sorriso cínico e disse um sonoro não, que iluminou um olhar de esperança na face do moribundo.
Quando os paramédicos chegaram não havia mais nada para fazer.
__Tu e as tuas mentiras – falou a Verdade.
__Pelo menos ele morreu em paz – retrucou a Mentira.