Amor no metaverso

No total foram nove meses de romance virtual. Quase o período de uma gestação.

Ali pelo quarto mês eles avançaram nas carícias e logo estavam fazendo sexo a quatro, ou seja, eles e as respectivas telas dos notebooks. Sexo gostoso por horas e horas. Munidos de óculos 3d e luvas especiais eles iam a loucura, depois compartilhavam conversas e o sono motivado pelas taças de vinho.

Com o passar do tempo o relacionamento foi avançando de modo que já não podiam passar um só dia sem se ver. Era amor, sem interferências, sem a chatice do cotidiano, das cobranças, dos tabus e dos medos. A simpatia era mútua e o sexo pleno das safadezas que, talvez, não tivessem coragem de fazer ao vivo.

Quero te conhecer – suplicava ela.

Ele protelava.

Minha família, meus amigos querem te conhecer – insistiu ela certo dia.

Acho muito cedo...

E assim seguiram-se mais alguns meses.

Um dia, ela não compareceu ao encontro virtual. No outro dia também e nos outros dias idem.

Uma semana sem ela! Ele já estava subindo pelas paredes.

Desesperado, ele tentou de tudo para localizá-la. O último recurso era a Deep Web e foi lá que ele encontrou um hacker disposto a ajudá-lo, por dinheiro, é claro.

Naquela noite ele ficou ansioso esperando o contato e o hacker ligou.

Amigo, tu estás me fazendo de bobo?

Eu, por quê?

Para ter a tua mina de volta tu tens que pagar a fatura da Tecstar desenvolvedora de software.

Tecstar?

Sim, eles te deram seis meses de teste grátis, te enviaram a fatura e sem o pagamento recolheram o programa.

Não! Não! Ela não é um programa, é de carne e osso! Tu não entendes, eu a amo, ela é a razão da minha vida, não posso mais viver sem ela, nós íamos nos ver, ela existe!

Olha, cara, eu te dei as informações. Qualquer coisa me liga.

De repente, o mundo estava desabando sobre ele, as lágrimas brotaram dos olhos, ele viu toda a sua vida passando num filme de terror e já estava pensando em se atirar da janela do quarto andar, quando a campainha tocou e ele foi cambaleando atender.

E lá estava ela, mais linda do que nunca, com aquela carinha de sapeca.

Meu bonitinho te preguei uma peça, tadinho do meu amor. Me abraça.

Ondina Martins
Enviado por Ondina Martins em 06/05/2022
Código do texto: T7510608
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