Histórias do Sul – Do jeito que o diabo gosta
O cara andava por lá desde pequetito.
Gravidez da raspa do tacho? Bebeu da água do parto?
Tantas coisas inventaram, que a verdade ninguém sabia. Seu nome era Nildo. Nildo o louco. Baixo, franzino, nariz de fuinha, babando pelos cantos da boca.
Enquanto a mãe era viva todos tinham piedade. De repente, a velha bateu as botas e deixou o filho à deriva. Um dia ele saiu de casa e deixou a porta aberta, veio um vento muito forte e derrubou sua tapera.
Então, ganhou as ruas, um abrigo aqui, um telhado ali, um prato de comida, um resto do lixo. Banho? Só quando a chuva oferecia. Roubava para comer, roubava para vestir. Vivia bisbilhotando, entrava sem ser convidado. Levava conversa adiante, até as do confessionário.
O padre tentou de tudo para achar-lhe um abrigo.
Por que o senhor não lhe dá abrigo? Eu, Deus me livre! Ave Maria!
Tanto que fez e tanto que aprontou, que resolveram dar um fim no Nildo.
Colocaram uma corda no pescoço, mas a corda arrebentou.
Soltaram lá das alturas, mas o vento levou pro monte de feno.
Despacharam rio abaixo e a correnteza cuspiu de volta.
Vamo explodir o malvado! O pavio não acendeu.
Enterraram o bicho vivo e um tatu o escavou pensando que era comida.
E assim foram tentando, até que se deram por conta: ele é filho do capeta e não morre, nada adianta! Então, para acalmar o chifrudo, a indiada medrosa fez uma casa pro Nildo, comprou tudo do bom e do melhor e cuida bem direitinho pra manter o traste vivo.
Todo o dia um vai lá pra ver do que ele precisa e o Nildo não se faz de rogado cada vez pede mais coisa, más que sujeitinho atrevido!
E se um dia ele morrer, não pense que vai ter fim, vai surgir um novo Nildo para infernizar a indiada "do jeito que o diabo gosta", como diz o velho ditado.