Encantos

Era uma noite quente de verão. Estávamos no restaurante panorâmico do Plaza para comemorar a estréia da empresa na Bolsa de Valores, o chamado IPO. Era um jantar para a cúpula de executivos e suas esposas. Assim que acomodei a Belinha ao meu lado ela entabulou conversa com a esposa do Maurício.

Reunião chata – pensei – e foi então que a avistei sentada no outro lado da mesa.

Consultei rapidamente o arquivo de esposas na memória, mas não a encontrei.

Mulher linda e gata, com aqueles lindos olhos de esmeraldas. Joguei meu charme e ela me fixou. Senti que estava sendo avaliado, e, pasmem! Corei feito um garoto.

Então, não tirei mais os olhos dela.

Vieram os aperitivos e ela escolheu um Martini.

Os lábios carnudos e vermelhos encostaram suavemente na taça, ela bebericou um pouco, depois, delicadamente, espetou a cereja com um garfinho e a levou à boca, fazendo questão de mostrá-la sobre a língua rosada, rolando-a pelo céu da boca, para então mordê-la com aqueles dentes brancos como a neve.

Céus! E a noite estava só começando...

Confesso que tentei esconder meu interesse, mas já era tarde de mais.

Meu olhar estava grudado nela. Lambi seus lábios, as maçãs do rosto, mordi seu queixo perfeito, escorreguei a língua pelo pescoço, pela nuca e só parei no generoso decote, que penetrei freneticamente para abocanhar aquele mamilo bem desenhado e quente.

Amor? Eles não vão servir nada com camarão né?

Era a Belinha me tirando daquele torpor.

Amor, tu estás te sentindo bem?

Sim, sim.

Vieram os pratos e os vinhos de castas raras, mas eu já não estava mais presente.

De repente, deixei um eu sentado ali e libertei um outro eu para viver um romance tórrido com a bela desconhecida.

Transportamo-nos para a suíte master. Eu a despi. Desenhei o trajeto do prazer naquela pele de pêssego. Ouvi seus gemidos de quero mais e fui entrando, descobrindo caminhos, desbravando segredos, até chegar ao momento supremo, aquele no qual nada mais faz sentido e no qual tudo se justifica.

Amor, solta o meu braço, já estamos saindo.

Ao chamado da Belinha voltei à realidade e busquei, com olhos ávidos, a minha musa, mas ela já havia ido embora com o meu outro eu, deixando-me eternamente cativo dos encantos dela.

Ondina Martins
Enviado por Ondina Martins em 13/05/2022
Reeditado em 16/05/2022
Código do texto: T7515577
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