Bem-te-vi

 

 

A certeza da viagem entrou pela porta da frente,

a luta incansável veio pelas madrugadas, e o homem, aquele homem apoiou-se na sorte e varreu os dias . Ele se negava a ir ao médico pois já sabia que nada adiantaria; além de ter medo do que escutaria.

A comer as noites e a roer o tédio continuou, sem deitar para não se sufocar. Além de um coração fraco estava com edema pulmonar. Esperou uma última visitante muito ansioso e não compreendia a demora desse alguém que muito amava, a sua neta.

Ela veio e os seus olhos brilharam, seu corpo sentiu mais vigor nessa hora, fez com que ele fosse ao médico, esse foi o último carinho a ele. Para sair da sua casa teria que descer uma escada e ele impediu que alguém o ajudasse. Disse ele ainda sou capaz de descer os degraus da minha casa.

Ao sair de casa em direção ao hospital o carro seguiu pela orla de Boa Viagem, praia tão conhecida em Recife, e ele viu o mar. Amava demais aquele imenso mar, bateu forte no porta documentos do carro.

As suas derradeiras lembranças foram diante dele, o mar. Assim se despediu em meio a um infarto.

Em fração de segundos reviveu toda a sua história.

Nesse momento a boca calou as sílabas, os olhos vivenciou o medo, o desconhecido, a dor ultrapassou o humano, a mão acenou um adeus e a consciência ficou em transe. Ao chegar no hospital ele sabia da sua real situação e já sentado numa cadeira de rodas acenou com brilhos nos olhos para a sua neta que tanto amava, numa despedida emocionante.

Essa seria a última vez que a veria.

Assim seguiu por uma longa estrada sem escala, a abrir portas, lar conhecido de outras épocas, de volta a sua verdadeira casa.

Segue o ser alado em direção ao infinito, ao sentir que seu espírito pairava numa outra dimensão.

Um bem-te-vi que se foi guiado por um raio luminoso que por certo o conduziu por um grande portal.