PENUMBRA- 1ªParte

Lembra daquela música que eu muito gostava?

Particles (Nothing But Thieves), hoje é o meu toque de chamada, toda vez que a ouço sou automaticamente levada para outra dimensão.

Por que razão nunca tive coragem de dizer-te tudo que estava estagnado na minha mente, dizia coisas desnecessárias e jamais tive coragem de dizer-te o efeito que realmente causavas em mim.

Lembro na madrugada do 05 de fevereiro, quando ligaste pra mim aos soluços porque a garota que tu amavas estava a casar-se com outra pessoa, eu algum momento deu-me vontade de acompanhar-te até a Érica e deixar-te dizer tudo o que sentias por ela, mas aí eu não podia, porque caso ela dissesse sim, eu te perderia para sempre.

A nossa convivência começou do nada, porque eu precisava de dividir as contas com alguém e tu, bem tu achavas o apartamento grande demais para ti, e aí a gente acabou convivendo.

Mais que duas pessoas dividindo o mesmo teto, eu não conseguia encarar-te dessa forma. Não é carência, eu não sou uma pessoa carente Josh, e com o tempo o que eu sentia por ti só foi aumentando gradualmente.

Lembra quando passei a noite toda soluçando, e eu disse-te que era porque estava cansada, nunca foi cansaço tu te lembras que eu tinha energia para doar pra todos os países da África.

É só que, sentia a tua falta, já faziam 3 dias que te fechaste e não falas com ninguém e só saias do quarto para pegar o gelado na geladeira e nem sequer mais de cinco palavras tu dizias. Sei que parece obsessivo e muito tóxico, e é realmente tóxico, lembra que te dizia sempre que seres humanos são tóxicos, são mesmo.

Eu te queria só pra mim e que se fodesse o mundo inteiro, se alguém te quisesse era um problema sério pra mim.

Mas porra, estou agora escrevendo essa carta para quê?

Se já não estás aqui Josh! Quando deveria ter dito eu não disse, e estou aqui presa nesse apartamento. Já se passaram 2 anos desde que desapareceste. Todo mundo diz que você está morto, mas eu me nego acreditar que te perdi.

Às vezes em meus pensamentos, imagino um monte de coisas, que estejas preso em algum sítio e tornaram-te refém, que fazes trabalhos para alguém, igual as pessoas que são levadas para fazerem escavações mineiras, imagino você com uma barba enorme e o cabelo maravilhosamente comprido e bagunçado. E soa mais engraçado, pois a tua barba era a principal coisa que nunca crescia no teu corpo e vezes há que dizias “Ágata, cadê meu creme de barbear” e soava ainda mais engraçado pois brincavas de faz de conta.

Será que pensas em mim?

De todas as pessoas que conheces, será que sentes falta de mim? Será que em algum momento pensas em me voltar a reencontrar?

Ontem persegui um cara no mercadinho, pois ele era igualzinho a você, claro exceptuando o facto de que ele tinha muita barba e usava um terno e tu jamais usarias um terno. A tua aparência era o que me encantou de início em ti. E ainda assim resmungavas o facto de eu usar cores por excesso. Acho que nós eramos o encaixe perfeito sem você perceber, porque porras desde o princípio eu percebi.

E toda vez que eu te dizia que estava a sair com uma pessoa, que estava a namorar, não era verdade, era pra não ter a sensação de ser uma mal-amada, uma sem paciência para relacionamentos.

E quando a gente assistiu juntos o filme alguém especial, eu lacrimejei, não pela história do filme ou pelo facto da moça ter perdido um amor de sete anos ou alguma coisa parecida, mas porque pelo menos ela estava a chorar por alguém que sabe que a ama, e eu coragem de dizer-te tudo o que sentia não tinha.

Lembro ainda que a tua mãe sentia que eu gostava de ti, e me jogava pra ti e tu dizias sempre, mãe para com isso, a Ágata tem os seus compromissos e além disso eu não faço o tipo dela, ela gosta desses carinhas arrumadinhos e riquinhos, e eu apenas soltava um sorriso, não era uma pessoa de expôr os meus sentimentos. E olha o que estou fazendo agora. Tenho até um gato e imagina o nome dele?, Lembra do bebé da vizinha ao lado, chamava-te de Oshi, pois é, toda vez que ele passa por cá, pergunta por ti e já está agora com 4 anos e está cada vez com menos bochechas e tu dizias que ele parecia uma almondega, que só apetecia-te engolir ele por inteiro.

Tinhas uma capacidade de fazer todo mundo gostar de ti. Ao contrário de mim com a cara sempre emaranhada e enrugada de tanto fechá-la.

Porra, o que estou fazendo? Estou a me afundar e tudo o que consigo dizer é o teu nome. Josh Josh Josh Josh Josh, parece até uma música na minha cabeça.

A minha casa está vazia, a nossa casa. A tua mãe passou por cá ontem e veio pegar as tuas coisas, dói tanto ver ela tão pra baixo, Josh ela perdeu o brilho, não tem vida, seus olhos, seu andar, está tão sem vida. Igual uma planta que não está no lugar certo e nem no tempo certo.

Eu tenho a impressão que tu estás vivo. Eu vou deixar essa carta no correio e se estiveres por aí, pega no meu correio, dá-me um sinal por favor. Não é possível que os homens que te sequestraram, não ficaram presos por muito tempo e tudo porque alegam que tu fugiste no meio do nada, sem direcção, te foste.

Não podes ser um mistério até ao ponto de te isolares tanto e ninguém saber nada de ti.

Eu tenho saudades de ti. Eu quero seguir com a minha vida, mas tu me impedes. Preciso saber e me convencer sobre o teu paradeiro.

Não podes ter sumido assim e sem deixar rastros.

Volta Josh, ou só dê um sinal de vida e eu deixo-te em paz.

Ass. Ágata

Maria Gregório

22/04/2021

MGregório
Enviado por MGregório em 24/06/2022
Código do texto: T7544753
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