A gaivota

O dia claro, o sol a pino e a praia deserta. Descalça a menina caminha aos saltitos sobre a areia para não queimar os pés. Olha para o céu. Nenhuma nuvem. Claridade ímpar. Ao longe avista uma ave que rodopia como pipa solta ao vento. De repente percebe que ela vem em sua direção. Amedrontada a menina tenta fugir. Suas pernas não obedecem. Parece que seus pés estão presos à areia. Lembra-se então da antiga lenda de sua aldeia: “quando o medo se acercar de ti, dance e cante uma música que ele desaparece”. Sem tirar os olhos da ave que a cada instante está mais próxima, a menina rodopia pela areia e solta a voz. Parece grunhir como faz a ave. A ave então se acerca entre rodopios e grunhidos até pousar em seu ombro. Com os olhos fechados a menina percebe que seu fim está próximo. Será devorada por aquele imenso animal. Todo seu corpo estremece. A agonia é tanta que a menina escorre pela areia. Ao abrir os olhos percebe uma multidão às gargalhadas fazendo um grande alvoroço à sua volta. Olha para o lado e vê uma enorme gaivota de origami balançando na areia ao sabor do vento.