Tudo pode ser amor. Amor ao cáctus. Ao espinho das rosas. Ao entardecer sangrando pelo verão vindouro. E, até, os desenganos da juventude. Maria Carolina casou-se no auge de seus dezessete anos. Era tradição de sua família. Se uma moça chegasse aos vinte sem casar, já era considerada para a titia... Seu noivo era um homem com 40 anos. O que já chamavam de "homem feito". Militar, de alta patente e engenheiro. Apto a sustentar uma família e prover a esposa com facilidade. O noivo se chamava Otto, nome de raiz germânica e que significa riqueza, tesouro. A etimologia do nome da noiva correspondia a "senhora soberana do povo" ou "vidente do povo". Após o casamento, continuou a estudar e, ainda, tratar da administração doméstica. Dois anos depois veio a primeira filha. Nascera de parto normal em sua casa. E, quando Carolina ligava para o obstreta para saber ao certo onde cortar o cordão umbilical da criança. O médico a tranquilizava, afirmando que ainda faltavam duas semanas. Ela, sem graça, informou doutor, já está em meus braços a menina. O médico se apavorou e questionou se Carolina poderia vir direto ao hospital. Ela se enrolou num lençol branco e, tal qual uma figura mitológica grega, conseguiu que um parente lhe levasse até o hospital que distava a pouco mais de quarenta minutos de sua casa. Em lá, chegando, desfilou tal qual Helena de Tróia, como se fosse uma refugiada da guerra... A guerra de ser mãe. De incompreensivelmente dar a luz, a vida e, o sentido a outro ser humano para, enfim, prover o próprio atendimento. O pai e esposo estava distante a trabalho, preparando a tropa para uma guerra fictícia. Ou será real e utópica? Bem, passado os primeiros momentos, a dor de amadurecer a marteladas efetivou-se. Veio, então, a sensação de plenitude e abrangência. Um romance juvenil, um casamento em tenra idade e a colheita de afetos feito de filhas, momentos amorosos e, principalmente, superação. Sendo romântica, o amor está em tudo. Literalmente. E, ao mesmo tempo, diluído no éter. Decifrá-lo, senti-lo e domá-lo feito uma fera que é capaz de devorar pessoas efêmeras e regurgitar apenas valores eternos. A eternidade é constituída de muitos momentos efêmeros gravados na memória.


 

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 25/10/2022
Código do texto: T7635473
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