Caso de Polícia

Dizem que no país do futebol, do samba, do sol, as vezes a escuridão bronzeia.E numa dessas nuances exacerbada...Numa sexta-feira atípica, Neguinho, como o povo o batizou e ele acatou. Vinha subindo a ladeira, em sua "caica", como é conhecida a bicicleta no norte. Bem no centro da ciclovia, sob ventos frios, folhas soltas e uma carreira de sombreado no largo da Batista Campos. Quando se deparou com uns pingos fortes de água e o sinal vermelho, qual fizeram no cruzamento da rua parar e olhar para o céu afim de se certificar mais ou menos, quanto ao tempo de chegada em casa, para não se molhar.

No mesmo cruzamento já estava uma viatura de polícia, que fiscalizava o local.

Neguinho ao lado da viatura, olhou para o céu e a notabilizar o pampeiro iminente, por causa da brisa fria, que se manifestava. Como a conversar consigo falou:

- Puxa, acho que vai chover.

- Tenho que chegar logo em casa, não quero gripar. E seguiu em disparada, quando o semáforo deu passagem.

Pouco depois, melhor dizendo, segundos depois, foi bruscamente abordado em seu trajeto, pela viatura, que estava no semáforo atrás.

Três policiais de porte considerado, desceram do carro e agarraram aquele corpo franzino do chão, já combalido pelo choque com o veículo e o colocaram de contra o veículo, a interrogar, dizendo em tom soberbo e austero num abuso de poder, natural da educação de alguns agentes de polícia:

- Bora rapaz repete o que tu dissestes pra nós lá atrás?

Neguinho atordoado e nervoso, de negro a palido e sem entender nada só sabia dizer:

- Sou trabalhador, sou trabalhador...

E os agentes o viram de frente, o revistaram e encontraram a identidade, para fazer a consulta pelo rádio.

Identificado que não tinha nenhuma passagem nas delegacias. Perguntaram mais uma vez:

- Bora rapaz, o que tu chamastes a gente lá atrás?...

Já mais assentado do juizo ele, identificando o seu opressor, inocentemente falou:

- Sargento eu lembro, que parei no sinal. Olhei pro céu e vi que a chuva estava pra cair e eu já estou meio gripado, se pegar essa chuva posso adoecer e até perder o meu biscaite. Então falei pra mim mesmo, acho que vai chover. Foi só o que disse.

Os militares se olharam e pelo tempo que andam na labuta, sentiram que o rapaz falava a verdade.

Já desarmados, em risos e cinismos bateram na costa do rapaz, se desculparam e concluíram:

-Tá bem, vá pra casa. Pensamos ter ouvido um palavrão.

Entraram no veículo e seguiram em disparada noutra direção.

Meio que sem graça e ainda ferido do choque com o carro. Aquele cidadão montou em sua bicicleta, já todo molhado, porque a chuva era torrencial. Seguiu pra sua residência se refazendo do susto e tendo ainda, que desviar das mangas que caiam no asfalto.

Fiz o registros em conto, como uma homenagem ao meu amigo Neguinho do futebol dos domingos pela manhã.