O estudante

Você acaba de concluir o ensino médio e tem apenas dezessete anos. Como todos os seus colegas, você presta o vestibular para a Universidade Federal. A concorrência é grande; para o seu curso são vinte e cinco candidatos por vaga. Você sabe que vai ser difícil, não se preparou para isso; você acabou de sair do ensino médio, enquanto os outros candidatos estavam nos cursinhos pré-vestibulares estudando; mas você está animado, este é apenas o seu primeiro vestibular.

Sai o resultado das provas e você descobre que não passou. Mas não fica desanimado, vai tentar de novo no inverno. Você resolve que vai se preparar em um curso pré-vestibular e assim sabe que estará apto a disputar com os outros candidatos. Você começa a pesquisar os preços das mensalidades desses cursos e termina descobrindo que eles são muito caros. Seus pais não vão querer pagar, até mesmo porque você não estudou a vida toda em escolas particulares. Então você resolve procurar um emprego. Compra o jornal no domingo e olha os classificados, mas todos dizem: exigimos pessoa com experiência! Você até fez um estágio quando estava cursando o segundo ano do ensino médio; mas foi apenas durante seis meses, e a atividade que desenvolveu neste estágio, nada tinha a ver com as ofertas de emprego que agora você vê no jornal. Aliás, você detestou aquele estágio! Então você descobre uma vaga, ali, perdida entre outras, que nada fala sobre ter experiências anteriores. Você se anima e diz: é esta, vou conseguir um emprego!

No dia seguinte, você chega à empresa pontualmente às oito e trinta. Alguém o convida para entrar em uma sala e ali é feita uma entrevista. Esta pessoa lhe pergunta sobre o que você já fez da vida: Se já fez algum estágio, há quanto tempo terminou o ensino médio; quais são seus sonhos e o que espera para o seu futuro profissional? Você responde a todas essas perguntas com entusiasmo. A pessoa logo lhe diz que a empresa vai continuar a fazer as entrevistas, e se você for o escolhido, receberá um telefonema na semana seguinte.

Os dias passam, você aguarda ansioso pelo telefonema e continua procurando no jornal uma vaga de emprego na qual você possa se encaixar. Você sabe que disso depende o seu futuro, só vai se matricular no curso pré-vestibular se arranjar o emprego.

Passam-se duas semanas e você ainda não recebeu telefonema algum, as ofertas de emprego no jornal também não lhe atraem. Passam-se mais alguns dias, você ainda não arranjou o emprego que queria e descobre que já está ficando tarde para se matricular no cursinho. Você acaba desistindo, sabe que para este vestibular não vai dar; vestibular agora, só no final do ano.

Então todo o fim de semana você olha o jornal, e nada muda. Você continua odiando aquelas ofertas de emprego, que exigem no mínimo um ano de experiência e pagam um salário miserável. Revoltado com o mundo, e até mesmo com os seus pais, porque agora eles o consideram um vagabundo, já que você concluiu os estudos e não está nem ao menos trabalhando; você acaba decidindo que não vai mais procurar emprego algum. Percebe que o único jeito de entrar no mercado de trabalho e ter um emprego e salário decentes, é voltando a estudar; ou seja, precisará entrar numa maldita faculdade.

Você convence os seus pais de que será impossível arranjar um emprego sem experiência profissional, e que será mais difícil ainda, passar no vestibular para a universidade federal. Então o único jeito será ingressar em uma universidade particular, e para isso, você precisará da ajuda e boa vontade deles. Você promete a eles que procurará por estágios assim que entrar na faculdade e, que o dinheiro da bolsa-auxílio recebida no estágio, será exclusivamente para ajudá-los a pagar o seu curso. Mas precisa que eles estejam dispostos a pagar; e para a sua felicidade, eles aceitam as suas propostas e até ficam orgulhosos, ao perceberem que em breve, você poderá estar ingressando em uma universidade.

Finalmente chega o vestibular de inverno. Você já passou uns dois meses estudando sozinho em casa e agora está confiante. Vai participar da disputa tanto na universidade federal quanto na privada.

Depois das provas você está um pouco mais animado; sabe que não foi bem nas provas de nenhuma das universidades, mas o baixo número de candidatos por vaga na universidade particular o faz crer que existe uma grande possibilidade de entrar nesta faculdade. Dias depois você vê o listão dos aprovados divulgado no jornal. Não passou no vestibular da universidade pública, como já esperava, mas foi aprovado no da faculdade privada. Você comemora e vê nisto a possibilidade de começar a realmente viver sua vida.

Agora você já está cursando o primeiro semestre da faculdade; você já procurou por estágios, mas todos eles eram para estudantes a partir do segundo semestre. Então você avisa aos seus pais que o tal do estágio ainda vai demorar um pouco, mas você promete a eles que no próximo semestre, para não pesar a eles, cursará apenas algumas cadeiras.

Chega o segundo semestre. Você volta a procurar estágios, faz entrevistas em algumas empresas, mas há sempre uma pergunta que lhe incomoda: Você tem experiência na área? Você responde que não, e diz que está procurando estágio justamente para conseguir a tal da experiência. Mas eles lhe dizem: sabemos que o estágio é para proporcionar ao estudante a oportunidade de aprender, mas agora não temos tempo para ensinar ninguém, precisamos de alguém com experiência! Você continua insistentemente procurando por estágios, mesmo sabendo que a sua bolsa-auxílio, não pagará nem a metade da mensalidade de sua faculdade.

O segundo semestre está chegando ao fim, você ainda não arranjou um estágio e, já está perdendo a esperança de consegui-lo. Então você pensa todas as noites e tenta encontrar uma solução. Já não agüenta mais ser um peso para a sua família.

Um dia, na hora do almoço, você diz aos seus pais:

- Vou largar a faculdade, chega de estudar, chega de gastar dinheiro; chega de correr atrás de uma oportunidade que não existe.

- Mas o que você vai fazer? - eles lhe perguntam.

- Vou abrir o meu próprio negócio! - você diz a eles.

- Como, com que dinheiro?

E você responde todo animado:

- Preciso da ajuda de vocês; em vez de investirem na faculdade, agora vão investir num negócio para mim! Tenho certeza de que posso ser bem sucedido, em pouco tempo estarei ganhando dinheiro! Muito dinheiro!

Provocador
Enviado por Provocador em 05/12/2007
Reeditado em 08/07/2008
Código do texto: T766137
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