"A CAIXA DE RETRÓS DE LINHA" Conto de: Flávio Cavalcante

A CAIXA DE RETRÓS DE LINHA

Conto de Flávio Cavalcante.

Este é um tipo de história comum em muitas famílias, mas é exatamente numa situação como esta que passamos a ter uma percepção das pessoas, principalmente ter uma noção das suas personalidades.

D. Mariinha, faleceu recentemente até pelo avanço da sua idade já beirando seus noventa e quatro anos. Pelos sintomas da sua internação, tudo estava indicando ser covid 19, mas o laudo médico descartou essa hipótese e revelou que devido a idade, seus órgãos estavam aos poucos deixando de funcionar; falência múltipla de órgãos, seria o motivo da sua morte. Dessa vez atingiu o coração, sem dar oportunidade de vida para aquela senhora.

Passados alguns dias da sua partida, a família resolveu ir à sua residência na intensão de repartir o único imóvel e iguarias que a velha possuía.

Abrindo uma ressalva nessa história e deixando bem claro, que a D. Mariinha quando estava no seu leito de enfermidade, nenhum parente queria visitá-la, devido a uma complicação causada pela tuberculose e por ser uma doença contagiosa, a família resolveu abandoná-la dentro da sua própria casa. A velha contava apenas com o seu cachorro de estimação e um bondoso rapaz, que morava próximo à ela e que ia alimentar o cachorro e aproveitar para fazer companhia para aquela senhora carente de afeto e cuidados. Ele comprava remédios e seguia direitinho a orientação do médico de um posto de saúde. O rapaz considerava a dona Mariinha como uma mãe. Ele saiu do seu emprego que tinha para pagar aluguel de um barraco que ele morava e passou a viver na casa da velha para dar a ela uma assistência maior. Na verdade, este rapaz bom samaritano, nunca viu familiar nenhum da dona Mariinha.

Certo dia, a velha muito doente percebeu que a hora dela estava chegando, chamou o rapaz e conversou.

- Sente aqui, meu filho... Tenho a liberdade de chamá-lo dessa forma; pois, assim lhe considero e lhe amo muito, como se de fato fosse. (O rapaz ficou feliz ao ouvir aquelas palavras da dona Mariinha; pois, ele também era uma pessoa só no mundo. Morava sozinho, não tinha parente e os seus pais haviam falecido quando ele ainda era uma criança).

- Pode me chamar da forma como a senhora achar melhor. Eu também lhe considero como minha mãe. E não se preocupe. Vou estar com a senhora até quando Deus quiser. (Disse o rapaz afagando os cabelos grisalhos daquela senhora. Já com a voz embargada, dona Mariinha fez um pronunciamento).

- Meu filho, escute! Preste atenção! A minha hora está chegando! E quero lhe agradecer pelo amor e dedicação para comigo. Eu tenho um presentinho para lhe dar. Eu gostaria de poder fazer mais. Não pense que é pagamento de nada; é apenas uma lembrança. Deixei muito bem guardado dentro de uma caixa de retrós de linha que a minha deixou para eu antes partir. Vou partir, mas deixei nela um singelo presente por tanto amor que você dedicou a mim e ao meu lindo cãozinho.

Pouco tempo depois dona Mariinha partiu e o rapaz com muita tristeza foi ver na caixa de retrós de linha o tal presente que a velha havia falado. Para a surpresa do humilde rapaz, dentro da caixa mágica continha a escritura da casa em nome dele, e um documento dando posse de tudo que velha possuía, inclusive a transferência de economias em dinheiro que a dona Mariinha sempre fez durante a sua vida. Ela transferiu para uma conta poupança do rapaz. O rapaz chorou e agradeceu em oração jurando cuidar intensamente do cãozinho amoroso da velha.

A família se revoltou com o ato de caridade da velha e tentaram de todas as formas reverter o que a velha havia feito, mas a justiça entendeu que o bom samaritano era o herdeiro legítimo dos bens e imóveis da boa velhinha.

Apesar de parecer uma estória, este conto foi um fato e aconteceu com uma pessoa muito próxima a mim, provando que a justiça divina pode tardar, mas nunca falha. E neste caso até a justiça dos homens, entendeu que o rapaz era o legítimo dono.

Este texto deixa uma lição muito importante, que na hora de fazer o bolo, ninguém aparece para ajudar, mas quando o bolo está pronto, todos querem abocanhar a melhor fatia.

VALE PARA UMA BOA REFLEXÃO.

Flávio Cavalcante.

Flavio Cavalcante
Enviado por Flavio Cavalcante em 08/12/2022
Código do texto: T7667717
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