"Culpa do Tio Sam"
O Oswaldo (com “w” mesmo), aprendeu desde cedo a ser materialista.
Na infância, papai Noel, coelhinho da Páscoa e outros personagens não fizeram parte da sua vida, pois, mal saído dos cueiros já acompanhava o pai na lida do campo. Assim, quando começou a frequentar a escola o Oswaldo viu, que aquele era o caminho e se lançou nos estudos de corpo e alma.
Tanto estudou e aproveitou as oportunidades, que acabou se formando advogado, com um luxuoso e bem-sucedido escritório no coração do centro administrativo e financeiro da capital.
Entre os amigos, o Oswaldo era invejado pelo sucesso, por poder morar num apartamento de cobertura e ter liberdade para fazer o que quisesse sem as amarras sentimentais com Deus, família, esposa, filhos, cachorro, contas de água, energia elétrica, condomínio, supermercado e cartões de crédito estourados.
O Oswaldo era a “rocha”, apelido dado pelos amigos.
Pois, um dia antes de embarcar para uma viagem de férias pra Califórnia, cedo da manhã, o Oswaldo estacionou o carro na vaga dos executivos e parou no semáforo para atravessar a avenida acompanhado de um grupo de pessoas com o mesmo objetivo. De repente, uma criança largou a mão da mãe e correu pela faixa em direção aos carros que vinham no fluxo intenso.
A iminência da tragédia paralisou as pessoas, inclusive o Oswaldo, porém, numa fração de segundos, uma jovem saltou e prontamente ergueu a menina, levando-a para o outro lado da avenida.
O Oswaldo foi o primeiro na cena do salvamento, bem a tempo de ver a moça recolher as asas de anjo sob a blusa branca.
Quase engasgado pelo susto o Oswaldo não queria acreditar no que havia visto e passou a mão nas costas da moça, que o olhou com um olhar divertido.
Psiu! Segredinho nosso. Combinado?
Assim, quando a mãe da criança e as demais pessoas chegaram a moça anjo já havia sumido.
No final das contas, Oswaldo embarcou pra Califórnia, porém, dizem os amigos, que ele voltou de lá muito diferente, com um brilho e uma ternura no olhar nunca antes visto.
É, o Oswaldo, a “rocha”, não era mais o mesmo.
Tudo culpa do Tio Sam – diziam os amigos.