Sextou

O Joilson saiu do quarto de mansinho e fechou a porta cuidadosamente para não acordar a esposa.

Aquele seria mais um dia de muito trabalho, esticando cabos de internet, subindo e descendo de escadas e telhados.

Não reclama Joilson. Dá graças a Deus por ter um emprego.

Antes de sair ele abriu a porta para o gato fazer as necessidades e deixou um bilhete sobre a mesa: “sextou”, deixei cento e cinquenta pratas, compra um quilo de bisteca de porco e faz à milanesa, não esquece das “loiras geladas”, traz uma dúzia.

Recado dado, o bom homem foi à luta pensando nas bistecas, que a Lucimara sabia preparar no capricho.

Ao final do dia, quando subiu a rua estreita ele estranhou a escuridão da casa.

Será que esqueci de pagar a conta de energia elétrica?

Não. Era débito em conta.

Ele pegou uma vela no armário e acendeu com o isqueiro, depois, com o coração na mão foi até o quarto e lá estava a Lucimara deitada na cama vestida apenas com uma diminuta lingerie vermelha, que ele nunca havia visto.

O que é isto mulher? E as minhas bistecas?

Hoje tu vais comer algo muito melhor, será filé de primeira - disse uma Lucimara cheia de malícia no olhar.

Unindo dois neurônios o Joilson logo deduziu, que as cento e cinquenta pratas haviam sido gastas pra comprar a roupa íntima.

E agora Joilson?

Amor, vou tomar um banho, estou todo suado.

Que nada amor, vem que te passo uns lencinhos e tu ficas cheirosinho.

Não deu outra, naquela sexta-feira não teve bisteca e nem loira gelada.

E, pra dizer a verdade, o Joilson nunca reclamou.

Ondina Martins
Enviado por Ondina Martins em 23/02/2023
Reeditado em 17/08/2023
Código do texto: T7726199
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