Sextou
O Joilson saiu do quarto de mansinho e fechou a porta cuidadosamente para não acordar a esposa.
Aquele seria mais um dia de muito trabalho, esticando cabos de internet, subindo e descendo de escadas e telhados.
Não reclama Joilson. Dá graças a Deus por ter um emprego.
Antes de sair ele abriu a porta para o gato fazer as necessidades e deixou um bilhete sobre a mesa: “sextou”, deixei cento e cinquenta pratas, compra um quilo de bisteca de porco e faz à milanesa, não esquece das “loiras geladas”, traz uma dúzia.
Recado dado, o bom homem foi à luta pensando nas bistecas, que a Lucimara sabia preparar no capricho.
Ao final do dia, quando subiu a rua estreita ele estranhou a escuridão da casa.
Será que esqueci de pagar a conta de energia elétrica?
Não. Era débito em conta.
Ele pegou uma vela no armário e acendeu com o isqueiro, depois, com o coração na mão foi até o quarto e lá estava a Lucimara deitada na cama vestida apenas com uma diminuta lingerie vermelha, que ele nunca havia visto.
O que é isto mulher? E as minhas bistecas?
Hoje tu vais comer algo muito melhor, será filé de primeira - disse uma Lucimara cheia de malícia no olhar.
Unindo dois neurônios o Joilson logo deduziu, que as cento e cinquenta pratas haviam sido gastas pra comprar a roupa íntima.
E agora Joilson?
Amor, vou tomar um banho, estou todo suado.
Que nada amor, vem que te passo uns lencinhos e tu ficas cheirosinho.
Não deu outra, naquela sexta-feira não teve bisteca e nem loira gelada.
E, pra dizer a verdade, o Joilson nunca reclamou.