A Vingança de Zé Pirajá

Enquanto dormia debaixo da oiticica em uma rede amarrada nos punhos da frondosa árvore, Zé Pirajá se imaginava tranquilo e seguro vivendo na sua fazenda no interior de Alagoas, recordando de sua vida e como ela tinha sido sangrenta até chegar aos seus 65 anos e ainda continuava vivo até aquela idade. José Arlindo Maciel mais conhecido como Zé Pirajá, pois o mesmo tinha nascido e se criado no bairro de Pirajá em Salvador e por isso recebera o infame nome por causa da sua localidade tinha sido um assassino de cangaceiro e mercenário no interior do Nordeste onde ele caçava e eliminava os mais temidos bandidos fora da lei daquele hediondo grupo que aterrorizava as vilas e cidades daquela região.

Zé Pirajá começou a sua carreira como assassino desde muito cedo ainda quando criança. O seu pai era a única pessoa que ainda tinha como família, pois sua mãe os havia abandonado. O seu pai era um homem muito violento e alcoólatra que depois de anos bebendo em bares e arrumando confusões ele foi vítima de uma doença que o deixou paralisado letárgico em uma cama. Como o seu pai adoecera ele passou a cuidar do homem constantemente, porém não tinha dinheiro para comprar os remédios e assim a única saída para conseguir mante-lo vivo foi roubando para comprar os remédios que o seu pai precisava. Zé Pirajá assim começou a roubar e foi pego muitas vezes levando muitas surras e ferimentos que até hoje a sua pele carregava o deixando com muitas cicatrizes. Depois de três anos cuidando do seu pai incessantemente ele conseguiu ajuda de um médico que havia conhecido a sua história, o Doutor Aldo Fausto que consultou o pai de José Arlindo e constatou que ele sofria de uma doença parasitose o médico o tratou ao longo de 4 meses até que o seu pai deve uma melhora significante.

O garoto não podia acreditar na melhora repentina que o seu pai tinha tido depois de tantos anos sofrendo. Emocionado o garoto que até aquela época não tinha um instinto violento agradecia bastante ao Doutor Fausto pela recuperação do seu pai. Havia se passado dois meses desde que o seu pai tinha se recuperado totalmente e assim como antes ele havia voltado a beber e passou a agredir o garoto diariamente. Aquela indignação começou a crescer no coração do jovem Zé Pirajá que na época tinha treze anos, ele não entendia de como depois de tanto esforço para cuidar do seu pai, depois de tanta violência praticada contra ele pela população toda vez que era pego roubando para comprar remédio para o pai ele deveria passar por todo aquele martírio novamente.

Em uma certa noite seu pai havia chegado as duas horas da madrugada com uma mulher e ele queria ficar sozinho com ela. Pegou o garoto da cama o jogou no chão e o expulsou de casa com um tratamento que não se faz nem com um cão o colocando na rua com um tratamento muito violento de modo que o jovem bateu com a cabeça no chão e desmaiou ali mesmo na calçada. Na manhã seguinte amanhece ensanguentado na cabeça adentra em casa e ver o seu pai deitado na cama junto com a mulher dormindo, pega uma faca e perfura o seu pai quinze vezes no peito até que o homem que agonizava por socorro para de gritar e morre. Da mesma forma segura a mulher pelo pescoço e calmamente corta a sua garganta a deixando sufocar até a morte com seu sangue. Esse evento tinha sido o gatilho para a vida criminosa que ele iria seguir para toda vida.

Fugindo de sua cidade Salvador na Bahia. Zé Pirajá percorrera todo o sertão nordestino indo de cidade em cidade por vez de carona, as vezes caminhando longas viagens. Até que um dia chega em Alagoas precisamente na cidade de Jundiá onde ver a correria da população que fugia assustados de um grupo de cangaceiro comandados por Tião Juruna um homem temido por muitos grupos de falange que a meses o tentavam pegar. Zé Pirajá que na época havia completado o seus vinte um ano de idade também fugia daquela ameaça e se escondia para não sofrer também daquela violência. As ruas da cidade estiveram cheias de um intenso tiroteio onde muitas pessoas foram atingidas por balas perdidas. Escondido na varanda de um casa Zé Pirajá assistia aquela situação com muito ódio e esperava um dia revidar também esses ataques.

Depois de muitas trocas de tiros e alguns corpos no chão o grupo de cangaceiros deixou a cidade com um rastro de destruição. No dia seguinte o delegado da cidade um sujeito baixinho, rechonchudo e com um bigode fino que se chamava Aloisio Graúna reuniu um grupo de voluntários para caçar os cangaceiros em mata fechada da região um pequeno grupo de homens se voluntariou entre eles estava Zé Pirajá que se apresentou e recebeu uma espingarda para sua empreitada. Na frente do grupo de homens mal armados estava um veterano que já tinha feito parte da polícia que já havia enfrentado os cangaceiros a muitos anos ele era chamado pelos mais chegados de Damião Bacamarte um homem de idade com os seus mais ou menos 62 anos, cara de durão e de poucas palavras. Zé Pirajá iria aprender a face da crueldade com aquele homem. Eles saíram em patrulha e foram atrás dos homens de Tião Juruna, os procurando por todo o sertão, passaram três dias tentando os encontrar e nada até que os homens montam acampamento em um pequeno riacho que passava por fora da cidade e no meio da vigília da noite eles são surpreendidos pelos bandidos. Houve um conflito muito violento e os dois grupos não cederam nenhum centímetro do terreno para o inimigo. Passado não mais de duas horas do embate o grupo que havia perseguido os cangaceiros havia ganhado a batalha. Doze homens do grupo de Juruna haviam sido capturados, inclusive o próprio Juruna estava entre eles. Zé Pirajá perguntou quando eles iriam levar aqueles prisioneiros até a polícia na cidade a Damião Bacamarte. Bacamarte olha com um olhar de desprezo para aqueles homens cospe no chão e vai até um deles que estava amarrado de joelhos. Ele então pega sua faca que estava na cintura e grava com todo força no olho do sujeito. O grupo olha aterrorizado aquela cena e com medo do seu próprio comandante. Depois Damião Bacamarte ordena que todos eles fossem eliminados, pois não iria haver prisioneiros para levar até a cidade.

No dia seguinte a população está em festa e recebe os seus heróis com uma passeata pública pela avenida principal de Jundiá. Os homens vão acenando para as pessoas extasiadas em cima da carroça que os levava na outra carroça que vinha atrás estava amontoada de corpos de dezoito cangaceiros mortos que eles levavam e em um balaio havia o prêmio daquela caçada, as cabeças de todos os dezoitos homens que haviam sido decapitados e iriam ser mostrados para todos da cidade como prêmio da coragem e valentia do seu povo.

Logo após aquela caçada, Zé Pirajá não iria ser o mesmo homem, junto com seu comandante Damião Bacamarte onde ele se juntara ao grupo ele iria passar o resto de seus anos caçando e exterminando bandidos de modo cruel e desumano. Passado vinte e dois anos desde aquele incidente Zé Pirajá havia se tornado o líder daquele grupo de mercenários que era tão temido quantos os bandidos cangaceiros que assolava as pequenas cidades do interior nordestino. A única diferença entre eles era que apoiavam qualquer um que pagasse o seu soldo, cidadãos ou bandidos. Zé Pirajá havia feito a sua carreira eliminando muitos cangaceiros não poupava ninguém, nem crianças e nem mulheres e ainda tinha uma mania terrível de arrancar as orelhas de suas vítimas e fazer um colar com elas, onde todo início de caçada ele utilizava para assustar as suas vítimas. Zé Pirajá também ganhou um apelido que presidia a sua fama sanguinária, muitos dos seus inimigos o chamavam de Nove Orelhas, devido o colar de orelhas humanas que ele havia arrancado de suas vítimas.

Percorrendo com o seu grupo pelos vales e montanhas. Zé Pirajá recebe a proposta de um fazendeiro local que havia sido vítima de um bando de arruaceiros que haviam roubados o seu gado. Esse grupo não era um grupo formado apenas por homens, mas era um grupo heterogêneo formado por homens, mulheres, idosos e famílias inteiras que atacavam grandes fazendas em busca de alimentos para sobreviver. O grupo estava localizado nas margens de um rio e se fixava ali com várias moradias improvisadas o grupo era comandado por um jovem de vinte e oito anos que vinha de uma família rica e havia largado tudo para se juntar aquele grupo de retirantes e propagar uma justiça que ele jurava que só poderia existir através da retirada daqueles que tem mais pelos os mais necessitados nem que fosse através da força. Por ter estudos ele conseguiu convencer um grande grupo de pessoas de suas ideias e formou um pequeno povoado que se chamava o Arauto. Esse grupo começara pequeno apenas com alguns trabalhadores rurais que se sentiam injustiçados com suas vidas e depois todos aqueles que andavam perdidos, injustiçados e sem rumo aderiram ao grupo que haviam se tornado um povoado com mais de 650 pessoas que se amontoavam em casas humildes e que faziam planos para crescer ainda mais.

Então Zé Pirajá chega na fazenda Alfazema e é recebido pelo o seu proprietário João Leôncio um homem velho, com muitas rusgas pelo o rosto e um bolso cheio de dinheiro. Ele exige que aquele grupo devolva o seu gado e que desocupe imediatamente as suas terras. O mercenário disse que conseguiria resolver toda a situação se ele pagasse a quantia proposta. João Leôncio com um sorriso no rosto e um pensamento na cabeça tenta barganhar o preço do serviço, pois afirma que a plantação de café foi prejudicada pelo o mal clima. Zé Pirajá não gostava de barganhar pelos seus serviços, ele se levanta da cadeira dar as costas ao homem e sai de sua casa, porém o fazendeiro rapidamente concorda com o valor sugerido e contrata o seu serviço. A única coisa que ele pede é que seja feito de maneira rápida e sem muito alvoroço para que não chame atenção do povo.

Na noite seguinte os mercenários observam o acampamento Arauto. Os homens se preparam para cercar o acampamento. Eles contabilizavam um grupo armado de cento e vinte e três homens. Zé Pirajá do alto do monte montado no seu cavalo coloca o seu colar de orelhas no pescoço e ordena o ataque do acampamento. O ataque começa rápido e violento, há tiros para todos os lados, os barracos são incendiados e os moradores são massacrados, poucas pessoas haviam sido poupadas e saído com vida. No dia seguinte a notícia que ocorre na região é de um grande massacre de inocentes que haviam sido dizimados de maneira brutal pelo o tão temido Zé Pirajá.

Haviam sobrados poucos sobreviventes. O fazendeiro João Leôncio arrependido pela sua ideia de contratar o mercenário se recusa a pagar pelo seu serviço. Zé Pirajá tinha passado de um herói que lutara contra os cangaceiros bandoleiros para um assassino odiado por todos. No entanto ele já tinha perdido muito de sua humanidade e não se importava com a opinião dos outros e então decidiu abandonar o grupo que havia formado e começar sua jornada sozinho como justiceiro pelo sertão, fazendo vítimas por onde passava e acumulando uma riqueza conquistada com muito sangue.

Passado então muitos anos Zé Pirajá já era um homem grisalho com 59 anos que havia feito fortuna caçando e massacrando muitas pessoas por todo o Nordeste. O nome Nove Orelhas havia sido sinônimo de terror por onde ele passara e cansado dessa vida procura se aposentar e compra uma fazenda no sopé de uma montanha. Lá ele constrói sua casa, cria porcos e galinhas e permanece no anonimato por muitos anos querendo esquecer de seu passado violento e querendo fugir daqueles que buscavam vingança. Até que um dia enquanto ele dorme debaixo de uma oiticica descansando a barriga depois do almoço um homem chega silenciosamente por trás de sua rede e corta sua garganta pacientemente e diz baixinho no seu ouvido:

------ Para cada 100 pais que você matou vai ter 300 filhos querendo vingança.

E assim termina a história do Nove Orelhas, Zé Pirajá um dos homens mais temidos do sertão nordestino.

Davi Freitas - 19/04/2023

Kaynne
Enviado por Kaynne em 19/04/2023
Reeditado em 20/04/2023
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